Bastou ter visto FAÇA-ME FELIZ (2009) para eu perceber o talento de Emmanuel Mouret. Naquele filme, igualmente exibido numa edição da Mostra Varilux de Cinema Francês, o diretor e ator bebeu de muito do que foi feito no humor mundial, especialmente do humor americano. As screwball comedies, os irmãos Marx, Jerry Lewis e Woody Allen em sua fase inicial, de humor mais físico. Em A ARTE DE AMAR (2011), Mouret presta novamente tributo a Allen, em especial. Desta vez, o que é explorado é o aspecto mais neurótico do cinema de Allen, que tem tudo a ver com esse jeito afrancesado de pensar demais antes e depois de fazer certas coisas.
O filme é dividido em várias pequenas histórias, algumas delas que voltam, outras que desaparecem, outras que se complementam. Há, por exemplo, a história da moça que está com mais de um ano sem fazer sexo e sua amiga acha isso um absurdo, chegando a oferecer o namorado emprestado para ela. Em outra história, uma moça que se mostra toda atirada, começa a achar que não deve se entregar para o vizinho, a não ser que isso aconteça de maneira "natural".
Em geral, as histórias mostram pessoas que complicam o ato de amar. Daí vem o título do filme, que remete à obra de Ovídio ("Ars Amatoria") e o que faz de A ARTE DE AMAR diferente de outras comédias francesas que podem ser conferidas na própria edição deste ano do Festival Varilux. Trata-se de uma obra com um humor mais universal, mais fácil de ser apreendido pelas plateias. Talvez justamente por ser herdeiro do humor americano, tão mais familiar à maior parte do público brasileiro. Mas além de fazer rir, o filme de Mouret, que aqui aparece apenas em um papel bem pequeno, é também encantador no modo como ele mostra o amor de certos personagens.
Tomemos o exemplo do jovem casal que deseja uma relação mais aberta, para não se sentirem presos um ao outro, mas que no fim das contas, tem dificuldade em estabelecer elo com outras pessoas. Há um outro casal, de meia idade, cuja mulher decide deixar o marido para ter novas experiências com outros homens. E a beleza de ele aceitar a condição de estar sempre lá quando ela voltar de suas aventuras, sejam boas ou más, é tocante. Não se trata de achar bonito ser corno; o filme vai além disso. Mouret faz um trabalho completo: faz rir com piadas simplórias mas divertidas (a da luz apagada), faz emocionar com o amor dos personagens e faz refletir também. Isso é raro de se encontrar no cinema. Daí Woody Allen ser a referência maior.