terça-feira, julho 24, 2012
VALENTE (Brave)
A Pixar, desde sua criação, pareceu uma versão mais moderna dos clássicos animados da Disney. VALENTE (2012) é o título que mais se aproxima dos filmes de época da produtora, sendo o primeiro que lida com esse universo de reis, princesas, castelos e bruxas. Que é algo que também está na moda novamente. As séries de televisão voltaram a lidar tanto com o épico, o gênero "capa e espada", quanto com os contos de fada, por exemplo. E o cinema, vez ou outra também.
Outra coisa que aproxima VALENTE dos clássicos animados da Disney é o fato de possuir canções. São poucas em comparação com os filmes pré-computação gráfica, mas estão lá. E não incomodam nem um pouco. Ao contrário: contribuem para a poesia do filme. VALENTE é uma bela fábula com lições de moral, mas que também consegue superar ou problematizar a mera lição de que não se deve desobedecer aos pais.
Em VALENTE, a jovem princesa Merida parece não ter nascido para as convenções sociais exigidas pela sociedade real. Daí ela ter mais afinidade com o desengonçado e bruto pai do que com a mãe, elegante e sempre preocupada com as etiquetas e com o comportamento da filha. Quando Merida fica sabendo que vai ser escolhida como noiva em uma competição entre rapazes de três clãs, ela fica indignada. Como se sabe, na Antiguidade e na Idade Média, era muito comum o casamento arranjado. E nas famílias reais era um fato de preocupação ainda maior, já que uma princesa, por exemplo, não podia casar com um plebeu.
Inconformada e revoltada, Merida foge de casa, indo parar, meio que sem querer, na casa de uma bruxa, que a princípio parece lhe trazer uma solução para os seus problemas. Nem é preciso dizer muito para saber que alguma coisa dará muito errado e que Merida vai se arrepender de seus atos.
Tecnicamente perfeito, VALENTE é um colírio para os olhos. Nunca a Pixar caprichou tanto nos cenários, no caso, a geografia, as montanhas, a vegetação da Escócia. Há também algo que sempre foi um problema e que agora foi superado, que é o trabalho árduo na construção dos cabelos. As madeixas encaracoladas de Merida, então, foram um desafio e tanto para a companhia.
Outro detalhe essencial nos desenhos da Pixar e que pode ser um dos grandes diferenciais das concorrentes é o cuidado com o roteiro, que vem antes de se pensar em efeitos especiais ou coisas do tipo. Desde o primeiro TOY STORY (1995) que houve essa preocupação clara com o contar uma boa história, em cativar a plateia com a agradável e milenar experiência de acompanhar com prazer uma narrativa de qualidade. Tão boa que a Pixar sempre agradou adultos e crianças.
No caso de VALENTE, o elemento emocional e que lida com as questões familiares, também presente em um dos melhores clássicos da companhia, PROCURANDO NEMO (2003), reaparece com força, ainda que com mais humor. Não se vê, por exemplo, algo tão traumático quanto a cena da morte da mãe de Nemo. E também bem menos sombrio que alguns clássicos da Disney, como PINÓQUIO e PETER PAN. Ainda assim, não deixa de ser uma obra ousada para as crianças menores, pois lida com um assunto ainda complexo para eles, que é a construção de seu próprio destino.