quinta-feira, janeiro 12, 2012

MADAME BOVARY



Este é o primeiro dos posts que pretendo dedicar às adaptações da obra-prima de Gustave Flaubert, o romance realista "Madame Bovary". Selecionei seis traduções ou livres adaptações do romance, começando em ordem cronológica por MADAME BOVARY (1933), de Jean Renoir. As obras seguintes serão A SEDUTORA MADAME BOVARY (1949), de Vincente Minnelli; THE SINS OF MADAME BOVARY (1969), de Hans Schott-Schöbinger; MADAME BOVARY (1991), de Claude Chabrol; MAYA (1993), de Ketan Mehta; e VALE ABRAÃO, de Manoel de Oliveira (1993). Não sei o quanto essa overdose de "Madame Bovary" vai me aborrecer ou me fazer ficar ainda mais apaixonado pela obra de Flaubert, mas, junto com a leitura do capítulo dedicado ao assunto presente no livro "A literatura através do cinema", de Robert Stam, me ajudará a compreender melhor as diferentes traduções das obras cinematográficas e os desafios enfrentados pelos diretores em transpor o romance para as telas.

A primeira das adaptações que vi, a de Renoir, me decepcionou um pouco, o que já era de certa forma esperado, mas muito dos problemas deste filme se deve ao próprio cinema produzido no início da década de 1930, que tinha a dificuldade de incluir uma música de fundo bem trabalhada e havia um excesso de teatralidade. Outro problema está na própria versão dos produtores, que é a que foi distribuída. A versão original do filme era de três horas, mas foi reduzida a menos de duas por insistência da distribuidora. O próprio Renoir brincava, dizendo que a versão mais curta parecia interminável, enquanto a mais longa parecia mais curta. E eu acredito no que ele diz.

Uma das opções de Renoir é a não utilização de uma voice-over para enfatizar os pensamentos dos personagens. Enquanto que na obra literária, Flaubert nos leva para dentro do coração e da mente de Emma, o filme de Renoir torna tudo objetivo, fazendo com que seja mais fácil para o espectador julgar a protagonista como uma mulher não apenas infiel, mas também egoísta e irresponsável. Algumas "deixas" de Flaubert foram ignoradas por Renoir, como a cena da feira, tão elogiada como protocinema por Eisenstein, em que Rodolphe tenta conquistar Emma durante um leilão. Por outro lado, a cena da conversa com o padre foi bem aproveitada.

Sequências de intensa força no livro, como a das complicações na cirurgia no pé de Hyppolyte, ou do próprio fim de Emma, perdem a força no filme de Renoir. Mas bobagem seria ficar enumerando os problemas do filme em relação ao romance. Sábio era Hitchcock que dizia que jamais adaptaria uma grande obra (ele costumava citar Dostoiévski). Assim, deve-se dar um desconto para os corajosos diretores que tentam fazer o impossível. As melhores coisas de MADAME BOVARY, de Renoir, são as cenas curtas, entrecortadas por uma tela preta que se demora mais do que o comum; o pouco uso do campo/contracampo nos diálogos; a profundidade de campo; e o belo uso da fotografia nas cenas pastorais. Melhor sorte na versão de Minelli.

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