sexta-feira, janeiro 27, 2012
2 COELHOS
Que bela surpresa que é este 2 COELHOS (2012), longa-metragem de estreia de Afonso Poyart que tem sido comparado aos filmes de Quentin Tarantino, Guy Ritchie e Zack Snyder. Comparar com Tarantino tudo bem, pois é um cineasta dos mais talentosos, mas comparar com os outros dois é diminuir o belo trabalho de Poyart, que apesar de ter um jeitão de filme hollywoodiano, carrega características de filmes brasileiros também, em especial, CIDADE DE DEUS. Se for para comparar com outro cineasta americano, por que não lembrar do Scorsese de OS BONS COMPANHEIROS e CASSINO, que utilizava uma estrutura narrativa similar e até voice-over?
A utilização massiva de efeitos especiais, diferente do que dá para se pensar ao ver o trailer, em nenhum momento chega a incomodar. Ao contrário, faz parte do charme do filme, um atrativo a mais para uma obra que tem como seus principais méritos a boa condução narrativa, que deriva de um roteiro caprichado; uma história complicada, mas não confusa, levando o espectador numa viagem poucas vezes experimentada; e um ótimo elenco, sem necessariamente ter grandes astros – os rostos mais conhecidos são os de Alessandra Negrini (sempre encantantadora) e de Caco Ciocler.
Há também Thayde, em papel muito divertido, e Aldine Muller, ainda uma bela mulher, em papel pequeno. Porém, curiosamente, os dois atores que mais se destacam não são conhecidos do grande público: Fernando Alves Pinto, o Edgar; e Marat Descartes, o Maicon. Seus nomes, se não são "artísticos" o suficiente, são de difícil memorização. Mas são esses dois sujeitos os principais condutores da ação. E conduzem com classe.
A trama não deixa muito espaço para tipos bonzinhos e honestos. Existem os bandidos e os menos bandidos. Talvez o único exemplo de honestidade seja o personagem de Ciocler, que ainda sofre com a perda da mulher e da filha em um terrível acidente de automóvel. Esse acidente está conectado diretamente com Edgar. Na verdade, o ideal é ver o filme sem saber muito da história, que vai sendo contada em idas e vindas, com o narrador pedindo para o espectador esperar um pouco antes de apresentar tal personagem ou de surpreendê-lo com algum fato interessante de suas vidas.
Mas não é só de uma trama intrincada que se faz 2 COELHOS, mas também de muitas sequências de ação, violência, explosões, humor e efeitos especiais dignos dos melhores exemplares de Hollywood e de uma trilha sonora que aproveita muito bem canções do Titãs ("Será que é disso que eu necessito?") e do Radiohead ("Exit music (for a film)") e que resultam em um final arrepiante. Não sei se o filme aponta um novo caminho para o cinema brasileiro, como muita gente anda dizendo - afinal, eu prefiro que o nosso cinema continue diversificado -, mas espero que depois de 2 COELHOS, outros trabalhos tão bons do gênero pipoquem.
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