terça-feira, outubro 04, 2011
BLOW-UP – DEPOIS DAQUELE BEIJO (Blow-Up)
Não estava nos meus planos rever BLOW-UP – DEPOIS DAQUELE BEIJO (1966), filme que vi na televisão na aurora de minha cinefilia. E isso já faz umas duas décadas. O que me motivou a revê-lo nesse momento um tanto conturbado de minha vida, com as obrigações cada vez mais me chamando a ser mais organizado e agir como um estudante exemplar, foi justamente um texto recomendado pelo professor de uma das disciplinas do mestrado. Trata-se de um conto muito intrigante de Julio Cortázar chamado "As babas do diabo". Fiquei tão empolgado com o conto que decidi rever logo o filme de Michelangelo Antonioni, que se inspirou no conto e que por sua vez inspirou outra obra-prima do cinema: UM TIRO NA NOITE, de Brian De Palma.
O filme de Antonioni retrata bem o espírito da época inglês. As cores, a contracultura, as meninas de minissaia, o sexo mais permissivo, as festas rock, os carros conversíveis. Mas o que torna o filme ainda mais impressionante, além de ser um retrato de sua era, é sua narrativa - lenta como era de se esperar do diretor - sobre um sujeito que é fotógrafo (David Hemmings) e que, por acaso, tira fotografias do que ele imagina ser apenas uma bela jovem (Vanessa Redgrave) e um senhor de idade agindo como se estivessem flertando ou coisa parecida. Ele trata de se esconder, mas logo ela o avista e se encaminha em sua direção, pedindo para que ele lhe dê o filme. Ele se recusa e acaba vendo nas fotos reveladas algo muito além do que imaginava encontrar.
Esse é mais ou menos o fio de história do conto, que se abre em múltiplas interpretações. No filme, esse é também o eixo principal da trama, mas Antonioni preferiu complementar com momentos da vida do protagonista, de seu trabalho como fotógrafo de moda, de seu jeito um tanto esnobe de ser e mostra até cenas de nudez bem ousadas para a época. E dá para notar que o cineasta gostava mesmo de sexo nos filmes, já que seus dois últimos trabalhos foram bem focados no assunto – ALÉM DAS NUVENS (1995) e um segmento de EROS (2004). O homem poderia ser o poeta da incomunicabilidade, mas o sexo, sendo uma linguagem universal, parecia ser a solução encontrada.
P.S.: Está no ar a nova edição da Revista Zingu! E está especialíssima. Diria que a melhor da história da revista, com uma homenagem a ninguém menos que Walter Hugo Khouri!!! E também a uma de suas maiores musas: Lillian Lemmertz. Tem textos maravilhosos no dossiê. Tive a honra de contribuir com dois meus: um sobre ESTRANHO ENCONTRO (1958) e outro sobre AMOR VORAZ (1984). Enjoy!!