quarta-feira, agosto 17, 2011
GODARD, TRUFFAUT E A NOUVELLE VAGUE (Deux de la Vague)
O documentário GODARD, TRUFFAUT E A NOUVELLE VAGUE (2010), de Emmanuel Laurent, até por sua curta duração, não tem a ambição de abarcar tão detalhadamente os detalhes envolvendo os trabalhos e os bastidores dos realizadores, quanto menos citar outros cineastas do movimento, embora ainda se possa ver uma sequência de A RELIGIOSA, de Rivette. Mas dá para se ter um panorama do que foram aqueles tempos e de como se iniciou a rixa entre os dois mais famosos cineastas do movimento cinematográfico que mudou o mundo.
O documentário se utiliza mais de imagens de arquivo para compor a sua estrutura. Uma das estratégias para que ele não pareça tão datado é mostrar duas pessoas estudando a Nouvelle Vague, através de jornais e revistas, como se fosse uma espécie de espelho do espectador. No entanto, isso mais incomoda do que ajuda. Mas como é algo que aparece pouco durante o filme, pode ser relevado.
O filme destaca o começo de tudo para os dois cineastas. Mas qual seria esse começo? Antes de voltar no tempo e mostrar um pouco de como foi a formação familiar e cultural de François Truffaut e de Jean-Luc Godard, o filme começa mostrando o grande triunfo de Truffaut, quando ganhou a Palma de Ouro em Cannes por OS INCOMPREENDIDOS em 1959. Curiosamente, Truffaut havia sido banido do festival no ano anterior por suas ferrenhas críticas ao cinema francês de sua época. Sua vitória teve sabor de revanche.
Por outro lado, Godard ficou um pouco enciumado com a vitória do amigo, mas isso não impediu que os dois trabalhassem juntos em ACOSSADO. O roteiro de Truffaut se transformou em um filme bem diferente na direção de Godard, uma obra que fez muito espectador sair do cinema indignado. Alguns espectadores disseram que o filme era grotesco, repulsivo. Poucos estavam preparados para tanta inovação.
Outra coisa que o documentário destaca é a figura de Jean-Pierre Léaud, chamado de filho da Nouvelle Vague. Estreou em OS INCOMPREENDIDOS, ficou marcado pelo personagem Antoine Doinel, que apareceria em cinco filmes de Truffaut, mas também foi ator de várias produções de Godard. Quando os dois diretores assumiram a rivalidade e se tornaram inimigos públicos, Léaud ficou no fogo cruzado. O filme segue mais ou menos até o ano de 1968, que foi o ano que abalou o mundo, que mostrou que a saída de um diretor da Cinemateca Francesa poderia render uma rebelião da juventude.
Depois de 68, enquanto Godard se tornou cada vez mais hermético, com um cinema cada vez mais politizado e inacessível para muitos, Truffaut permaneceu seguindo o estilo clássico. A Nouvelle Vague é um assunto que dá muito pano pra manga, para muitos livros e tratados. Por isso, melhor ficar por aqui para não me estender. Até porque tudo isso que eu escrevi já é de conhecimento de muitos.
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