domingo, junho 12, 2011
SEIS CURTAS (MOSTRA OLHAR DO CEARÁ 2011)
Parece que a cada ano vou me desinteressando mais pelo festival de cinema de Fortaleza. Anos atrás, até se ousava dizer que o nosso festival poderia ser comparado ao de Recife em grandeza e em quantidade de bons filmes. De organização, nunca foi mesmo o forte. Mas tenho saudades da segunda metade dos anos 1990, quando o Cine São Luiz ficava lotado e o festival era bastante popular, passando só filmes brasileiros, vários curtas e pelo menos um longa-metragem por noite. O fato de ele ter se elitizado foi um tiro no pé. Enquanto isso, a suposta democratização do uso da câmera trouxe facilidade para se criar vídeos inventivos com custo baixo. No entanto, praticamente a maioria dos trabalhos vistos no dia em que eu saí de casa para ver os curtas cearenses exibidos na sexta-feira na Mostra Olhar do Ceará desta 21ª edição do Cine Ceará foi produzida na Escola de Audiovisual da Vila das Artes. Senti falta de pelo menos uma produção mais independente. De todo modo, não deixa de ser uma boa janela.
No ano passado, a minha ida para uma dessas sessões foi para prestigiar o curta de uma amiga, a Juliana Chagas. Como era um fim de semana, a sala do Espaço Unibanco Dragão do Mar estava lotada. Nessa sexta-feira, foi a vez de eu prestigiar a produção de outra amiga, a Camila Vieira. Falemos um pouco de cada trabalho.
O COMEÇO
A imagem sem pressa de um homem aparecendo de longe enquanto a câmera estática nos apresenta também o mar com o seu doce som me remeteu a um curta de Kleber Mendonça Filho (NOITE DE SEXTA, MANHÃ DE SÁBADO). Mas O COMEÇO (foto) trata de outra coisa, embora ambos sejam filmes que lidem com relacionamentos. Nele vemos um casal enterrando uma série de fotos e lembranças numa caixa, na areia do mar. Os diretores optaram pela não utilização de diálogos. O resultado pode não agradar a muitos, mas há algo nesse curta que me diz que é de natureza bastante pessoal. E isso pode contar pontos a favor. Direção de Camila Vieira e Hugo Pierot.
PRINCESA
Mais um filme que prefere as imagens em detrimento dos diálogos. Vemos um dia de rotina de uma moça que trabalha como animadora de festa de crianças. Ela está vestida de Branca de Neve e tira fotos com as crianças ao som de canções da Xuxa. A ida para casa e o enfrentamento da solidão trazem pelo menos dois momentos de destaque: a espera pelo ônibus e a "briga" com uma porta de uma velha geladeira, que insiste em não fechar. Filme com potencial para um bom longa. Pena que acaba logo e fica a sensação de que poderia ter rendido mais, mesmo naquele pouco espaço de tempo. Direção de Rafaela Diógenes.
FUI À GUERRA E NÃO TE CHAMEI
A maior restrição que eu faço a esse curta é que das três sequências apresentadas, a terceira e última me parece mais teatro do que cinema. A câmera estática mostra um casal jogando roupas um no outro. Há algo de cômico e ridículo ali e eu gostei particularmente da atriz. Quer dizer, no aspecto da representação, é um bom trabalho. Como cinema, já não sei. Direção de Leonardo Mouramateus, Rosane Morais e Luana Lacerda.
NAS ASAS DO CORAÇÃO
Pequeno documentário que acompanha a peça "A Vaca Lelé". Além de valorizar o imaginário infantil da peça, vemos também o empenho da equipe em apresentá-la para crianças cegas, com a utilização de audiodescrição, que inclusive é um trabalho utilizado com afinco por uma ex-professora minha da especialização, Vera Santiago, cujo nome aparece nos créditos finais de agradecimentos. Quanto ao curta, não chega a empolgar ou emocionar, a não ser talvez a quem conheça a peça. Direção de Sara Bevenuto e Klistenes Braga.
BUENOS A
Se a intenção é mesmo remeter ao jazzismo da trilha sonora, até que este BUENOS A tem os seus méritos. Porém, o recorte excessivamente picotado e em preto e branco da cidade de Buenos Aires mais dispersa do que instiga. Direção de Gabriel Silveira.
DOSSIÊ NORONHA
Até estava animado para ver este documentário, que mostra um pouco da história da ilha de Fernando de Noronha, através de depoimentos de historiadores e de moradores antigos. Mas o curta, que mais parece um vídeo institucional, talvez seja apenas um ensaio do que poderia ser um estudo mais aprofundado sobre o tema. Algumas informações são interessantes, mas é preciso procurar saber fazer uso dessas informações, em tempos de facilidade das mesmas através da internet. Direção de Ana Paula Teixeira.
Pena que não pude ficar para o debate com os realizadores, que houve após o final da sessão. Provavelmente teria me oferecido um pouco mais de luz. Mas deixo registradas as impressões assim mesmo, sem saber o contexto e os motivos em que essas produções foram realizadas.
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