segunda-feira, junho 06, 2011

O HOMEM QUE SABIA DEMAIS (The Man who Knew Too Much)



A lembrança que eu tinha de O HOMEM QUE SABIA DEMAIS (1956) não era muito boa. Tinha-o como um dos filmes que eu não gostava do mestre Alfred Hitchcock. Mas já estava mais do que na hora de uma revisão. E tinha que ser com direito a documentário extra do Laurent Bouzereau, contido naquela coleção maravilhosa lançada pela Universal. O documentário de meia-hora é bacana, mas é do filme que eu quero falar, do quanto ele impactou emocionalmente em mim, me pegando realmente de surpresa.

Há poucos anos eu assisti a versão de 1934 e até tinha a impressão de que era melhor do que a refilmagem americana. Mas como o próprio Hitchcock dizia: o primeiro filme foi feito por um cineasta amador; a refilmagem, por um profissional. E de fato, na década de 1950, Hitchcock estava no auge. No auge e crescendo, já que ainda viria pela frente UM CORPO QUE CAI (1958), PSICOSE (1960) e OS PÁSSAROS (1963), os meus favoritos do mestre.

Embora seja sempre muito bom ver James Stewart nos filmes de Hitchcock, o que mais me impressionou em O HOMEM QUE SABIA DEMAIS foi a performance espetacular de Doris Day. Pelo menos em dois momentos-chave do filme ela está fantástica: quando recebe a notícia de que seu filho foi sequestrado (cena de arrepiar, de tão dramática e realista); e quando está no Albert Hall, na agonia de saber o que fazer: ficar com a culpa por não poder ajudar a evitar o assassinato de um homem e perder o próprio filho ou ajudar o homem e correr o risco?

Como é natural na obra católica de Hitchcock, o sentimento de culpa é mais forte que o amor de mãe, embora saibamos o quanto ela está angustiada com aquela situação extrema. Talvez a atriz nunca tenha encontrado um papel dramático tão bom. E Hitchcock, tão famoso pela sua frase de atores como gado, prova aqui a sua excelência também na direção de atores.

Com a experiência obtida ao longo dos anos, Hitchcock sabia dominar as emoções da plateia como ninguém. Sabia, por exemplo, que era necessário um alívio cômico, que um filme de duas horas de duração não poderia se estender tanto no suspense sem cansar a plateia. E por isso existe aquela cena engraçada na loja de taxidermia. Ele sabia também o quanto estender a tensão ao máximo, como na cena da expectativa do assassinato no Albert Hall, com o próprio Bernard Herrmann regendo a orquestra. E a sequência de Doris Day cantando "Que será será (Whatever will be, will be)" oferece não apenas suspense, mas uma dramaticidade ao mesmo tempo terna e trágica. É tanta coisa no filme que atesta a sua grandeza, tantos sentimentos misturados que ele provoca, que agora a impressão que eu tinha do filme se inverteu completamente.

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