quarta-feira, junho 15, 2011

NAMORADOS PARA SEMPRE (Blue Valentine)



Nos últimos dias, o que mais se comentou sobre NAMORADOS PARA SEMPRE (2010) foi o título brasileiro equivocado e a picaretagem (ou esperteza) da Paris Filmes em lançá-lo no fim de semana do Dia dos Namorados, mesmo se tratando de um filme sobre a dor da separação. De títulos equivocados, temos já uma longa tradição e por isso é sempre bom levar em consideração o mais importante: o filme em si.

Na filmografia do diretor Derek Cianfrance, podemos ver que sua maior experiência é em documentários e isso fica um tanto notado nessa sua experiência em ficção, que não é a primeira, mas certamente foi a primeira a chamar a atenção de um grande público, graças ao casal de astros Ryan Gosling e Michelle Williams e à posterior indicação ao Oscar para Michelle. Os dois, aliás, receberam possivelmente os melhores papéis de suas carreiras até o momento. O clima intimista e incômodo de se ver uma relação em estado de degradação confere momentos especialmente intensos.

Tudo bem que já vimos filmes muito mais poéticos e dolorosos. Não vou nem citar exemplos para não diminuir o trabalho de Ciafrance, mas a intenção aqui é mostrar as qualidades da obra. A opção por utilizar uma montagem que alterna passado e presente, o momento em que os dois se conhecem e tudo parece ser um mar de rosas (ou quase) e o momento mais tenso, quando o amor de Cindy (Michelle) por Dean (Gosling) já desapareceu. O filme foi criado para ser visto nessa estrutura, já que há um salto temporal, uma elipse do momento que poderia nos revelar um pouco do que ocasionou esse desgaste, que nos ajudaria a entender um pouco mais o ponto de vista de Cindy.

Afinal, do jeito que o filme mostra, não vemos em momento algum razões para desgostar de um sujeito tão esforçado para agradar à mulher e a filha. Ela acaba saindo quase como uma vilã na história. Lembrei, inclusive, de um amigo que costuma dizer que mulher não gosta de homem bom demais; o sujeito tem que ser pelo menos um pouco perverso, que homem bom acaba se dando mal no fim das contas. Não sei se concordo com ele, mas ele tem muito mais experiência de vida do que eu. Não sou eu quem vai questionar esse seu posicionamento rodriguiano, mas pelo menos em certo momento do filme, na sequência do motel, ela pede para que ele bata nela. Podemos atribuir tal comportamento como uma busca da parte dela de sentir algo por ele. Ou poderia ser algo mais freudiano, relacionado ao seu pai carrasco. Existem várias outras hipóteses, mas o fato maior é explícito: o amor, da parte dela, se foi.

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