segunda-feira, junho 20, 2011
MEIA NOITE EM PARIS (Midnight in Paris)
Melhor filme de Woody Allen desde VICKY CRISTINA BARCELONA (2008), MEIA NOITE EM PARIS (2011) é dessas comédias deliciosas que deixam a gente com o espírito mais leve ao sair da sessão. Lembremos que TODOS DIZEM EU TE AMO (1996) também era ambientado na capital francesa e é uma de suas melhores obras de sua já extensa filmografia. Deixando claro que quando digo extensa, não estou reclamando. Ao contrário, por mim, teríamos dois filmes de Allen por ano, ao invés de um. Por mais que ele às vezes se repita, é justamente essa familiaridade que traz de imediato um sorriso no rosto do espectador acostumado a acompanhar a obra do cineasta nova-iorquino.
MEIA NOITE EM PARIS (tiraram mesmo o hífen de meia-noite?) remete a uma obra da fase oitentista de Allen: A ROSA PÚRPURA DO CAIRO (1985), na qual Mia Farrow, em plena depressão americana e com uma vida infeliz que leva, vai ao cinema em busca de escapismo e um dos atores do filme sai da tela para falar com ela. Em MEIA NOITE EM PARIS, o roteirista frustrado vivido por Owen Wilson, querendo entrar na carreira de escritor de romances, vai parar magicamente na Paris dos anos 1920, quando a nata dos artistas da época vivia ou passava uma temporada por lá. Assim, ele encontra F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Pablo Picasso, Luis Buñuel, Salvador Dali, Cole Porter. Cada um desses artistas é visto de maneira bem exagerada, como uma caricatura do que os imaginamos hoje. Mas isso não incomoda de maneira alguma. Ao contrário, ajusta-se ao humor de Allen.
Falando em familiaridade, o personagem de Michael Sheen, o sujeito pedante que quer saber tudo de arte, tira o protagonista do sério com o seu jeito. E, por isso, a cena de Rodin, com Carla Bruni, remete de maneira sutil a uma sequência clássica de NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA (1977): a cena da fila do cinema. Quanto a Rachel McAdams, no início, com os poucos planos em close-up, faz lembrar por alguns momentos a Scarlett Johansson em sua loirice. Mas sua personagem é propositalmente chata, provavelmente para contrastar com a de Marion Cotillard. Assim, é fácil para o espectador entender o protagonista, a sua falta de pertencimento àquele meio. E, principalmente, a nostalgia de um lugar que nunca esteve antes. Isso porque raramente estamos satisfeitos com o presente. E o passado, um determinado passado em especial, pelo menos, é um refúgio seguro e agradável. O passado é a cápsula do tempo dos românticos.
E para Woody Allen, agora que entrega as suas atuações para outros por causa da velhice, é perfeitamente compreensível que o passado para ele seja cada vez mais saudoso. E quanto a Paris, ela nunca esteve tão convidativa. Sempre enxerguei a capital como um lugar destinado apenas aos casais, mas parece que até andar sozinho à noite – e na chuva – parece ser uma boa pedida. E o que é melhor: o amor pode estar logo ali na esquina, à espera.
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