terça-feira, maio 17, 2011
POESIA (Shi)
Tenho o hábito de ler trechos do livro "Psicologia do Esotérico", de Osho, quase todo dia. Abro o livro aleatoriamente em determinada página e sempre fico fascinado com as palavras de sabedoria desse guru indiano que me instiga há mais de quinze anos. Quando eu digo "instigar" é porque às vezes eu me assusto - ou pelo menos me assustava - com o que ele dizia. Hoje, eu entendo até mesmo as contradições dele, pela quantidade de livros que já li.
Ontem li um trecho no qual ele fala sobre as tensões do futuro. Estamos sempre angustiados com o que devemos fazer ou com o que será de nós daqui a um ano ou mesmo daqui a uma semana ou mês. Segundo ele, a existência em si não é tensa. "A tensão é sempre por causa das possibilidades hipotéticas, não existenciais. Não há tensão no presente." Então, ele fala sobre a possibilidade de a gente imaginar algo que não esteja relacionado ao futuro, mas algo relacionado ao presente. Isso vem na forma de criação, da imaginação construtiva. Se você é pintor, a explosão será na pintura; se você é poeta, na poesia. Acho que por isso que escrever para esse blog, mesmo sendo sobre algo do passado, é como uma terapia pra mim. Posso não ser poeta, mas estou criando, nem que seja à sombra do trabalho artístico de outros.
A personagem de POESIA (2010), do sul-coreano Lee Chang-dong, é uma senhora idosa que tem a intenção de escrever um poema. Matricula-se num curso de poesia e o professor, ao falar sobre estados poéticos, lembra muito a meditação, de estar em contato com o presente e com o esvaziamento da mente. Pelo menos daquilo que não importa para a poesia. Ele dá como exercício para os alunos examinarem uma maçã. E ela leva isso a sério. Fica horas olhando para a maçã ou olhando para uma árvore, em busca de inspiração para o tão desejado poema.
Há outro detalhe interessante sobre a personagem: ela sofre de Mal de Alzheimer. E o buscar nas palavras – que já começam a desaparecer de sua memória a cada dia – se torna uma maneira de retardar o esquecimento. Há também uma subtrama envolvendo o neto, adolescente suspeito de participar de um grupo de violadores de uma jovem, que se suicida. A subtrama é bem costurada dentro da trama principal e serve para vermos o comportamento da personagem frente a algo tão brutal. A narrativa é lenta, agradável e bem próxima do que a gente pode chamar de cinema-poesia.
POESIA ganhou o prêmio de roteiro em Cannes em 2010.
P.S.: Já deveria ter mencionado, mas estava esperando que a Revista Zingu! voltasse com os acertos que faltavam para finalmente anunciar a edição de abril. Entre os acertos, um dos textos que contribuí para a última edição, que destaca o trabalho de Inácio Araújo, mais conhecido como crítico da Folha de São Paulo, no cinema brasileiro. Ele só dirigiu de fato um filme, o segmento "Uma Aula de Sanfona", do coletivo AS SAFADAS, mas contribuiu em outras áreas, como pode ser conferido nos vários e ricos textos sobre ele na revista. A Zingu! também lembra do índio, que costuma ser objeto de reflexão no mês de abril. Contribuí com os textos sobre A INFIDELIDADE AO ALCANCE DE TODOS, de Aníbal Massaini Neto e Olivier Perroy, e YNDIO DO BRASIL, de Sylvio Back. Confiram!
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