terça-feira, março 29, 2011
DISQUE BUTTERFIELD 8 (Butterfiel 8)
Em fevereiro foi Jane Russell, rainha das pin ups, agora em março, Elizabeth Taylor, que se autointitulava uma sobrevivente, por ter passado por tantas coisas em sua vida, nos territórios da profissão, dos amores e da saúde. Ela parecia eterna. Não eterna só no sentido figurado, mas no sentido material mesmo. Ela representava uma Hollywood luminosa, a que morreu na segunda metade dos anos 1960, com a chegada da contracultura no cinema americano. Sua morte, no dia 23 da semana passada, representou o fim definitivo de uma era. Ela foi a primeira mulher a ditar um valor exorbitante para protagonizar uma superprodução (CLEÓPATRA, 1963) e antecipou o "casa-separa" dos astros de hoje em dia, ao ter casado sete vezes – duas delas com Richard Burton, seu maior parceiro nas telas e na vida e falecido no hoje distante 1984.
Muito já se falou de sua vida e obra logo que sua morte foi anunciada. O que posso acrescentar é pouco: as minhas lembranças de seus filmes. Infelizmente vi poucos. Sem dúvida, o que mais me marcou foi o excepcional UM LUGAR AO SOL (1951), de George Stevens. Outro de Stevens também é grandioso, inclusive em sua duração e ambição, ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE (1956). Ambos foram protagonizados por dois de seus grandes amigos, os dois gays, Montgomery Clift e Rock Hudson. Os dois viveram num tempo em que ser homossexual era muito mais complicado, principalmente em Hollywood, onde esses homens tinham de posar de bons maridos. A causa gay culminou nos anos 80 com a luta contra a AIDS, que Liz Taylor abraçou.
Liz Taylor se mostrou grandiosa ao fazer parte de famosas adaptações de obras de Tennessee Williams (GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE, 1958, e DE REPENTE, NO ÚLTIMO VERÃO, 1959) e Edward Albee (QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOOLF?, 1966, que lhe rendeu o seu segundo Oscar). Seu primeiro veio com DISQUE BUTTERFIELD 8 (1960), de Daniel Mann, o filme que escolhi para homenageá-la. Não é exatamente um de seus melhores trabalhos, mas ela é maior do que o filme e isso já é o suficiente para torná-lo digno para uma homenagem.
Sua personagem no filme me fez lembrar Audrey Hepburn em BONEQUINHA DE LUXO, de Blake Edwards. Ambos mostram prostitutas de luxo, mas em DISQUE BUTTERFIELD 8, as tintas são bem mais dramáticas. Liz Taylor tangencia a vulgaridade e a elegância com sua personagem, Gloria Wandrous, bastante insinuante e sensual em seus trajes, mas também bastante convincente em sua carência afetiva. O filme se inicia com ela acordando. Logo sabemos que ela está na casa de seu amante (Laurence Harvey). E mais tarde sabemos também que ela tem a fama de sair com vários homens. Mas com esse agora é diferente, pois um forte sentimento brota dos dois, embora ele seja um homem casado, e com uma mulher vinda de família milionária.
O filme tem um andamento narrativo um tanto aborrecido, como acontece com vários títulos da primeira metade da década de 60, mas vai crescendo aos poucos, à medida que se aproxima do clímax. O final carrega bastante na dramaticidade, mas eu diria que isso faz parte do charme do filme, que, se não fosse por isso, não valeria mais do que vale. Há, como não poderia deixar de ser num filme ambientado naquela época um forte aspecto moralista, já que o sujeito tem uma esposa compreensiva e a instituição do casamento ainda deveria ser respeitada a todo custo. Assim, é preciso entender o contexto da época, as imposições da sociedade. Mas quem entra no clima de DISQUE BUTTERFIELD 8 até pode sentir o pesar de seus protagonistas.
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