domingo, novembro 14, 2010

VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS (You Will Meet a Tall Dark Stranger)



Um Woody Allen é sempre motivo de festa pra mim, mesmo quando há aquela possibilidade de ver um filme menor. Mas afinal, o que é um filme menor desse homem que atravessa décadas e, ao mesmo tempo que se mantém fiel às suas tradições, consegue se renovar ao longo dos anos? A fase atual, que pode ser descrita como "fase europeia", que se iniciou com o excepcional MATCH POINT – PONTO FINAL (2005), foi uma sacada e tanto para dar uma revitalizada em sua carreira. E embora tenha voltado à Nova York no ano passado para dirigir TUDO PODE DAR CERTO (2009), considero esse filme uma espécie de interlúdio desse atual momento.

VOCÊ VAI ENCONTRAR O HOMEM DOS SEUS SONHOS (2010), ainda que não prime pela perfeição e tenha vários personagens rasos dentro da tradicional ciranda amorosa que Allen tanto aprecia, tem inúmeras qualidades. Entre elas, o uso da câmera em ambientes fechados. Não uma câmera tremida e excessivamente nervosa, como a do hoje distante MARIDOS E ESPOSAS (1992), mas uma câmera fluída, que passeia procurando espaço em lugares apertados para nos mostrar personagens estressados e problemáticos discutindo suas vidas. Esses momentos mais inspirados acontecem principalmente no apartamento onde mora o casal vivido por Naomi Watts e Josh Brolin. Os dois estão passando por problemas conjugais. Ele está escrevendo um livro, mas está tendo uma crise de inspiração e totalmente sem rumo na vida profissional. A inspiração só volta quando ele vê na janela do apartamento ao lado a indiana Freida Pinto (de QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?), que conquista seu coração e a quem ele vai, ousadamente, chamar para sair.

Já Naomi Watts tem o problema de se sentir atraída pelo seu chefe, o dono de uma galeria de arte, vivido por Antonio Banderas. Para tranquilizar sua mãe, ela a encaminha para uma falsa vidente, que sempre lhe dá esperanças, dizendo que tudo vai melhorar e que ela vai encontrar um homem ideal e coisas do tipo. De modo que a pobre velhinha, abandonada pelo marido (Anthony Hopkins), consegue um pouco de consolo. As esperanças, ainda que sejam apenas esperanças, funcionam como um modo de ela continuar a viver. E viver melhor do que muitos outros personagens da trama. Há a interessante figura de uma prostituta (Lucy Punch), de quem o personagem de Hopkins contrata os serviços, mas que depois pede para que seja sua esposa. O que, como é de se esperar, dificilmente pode dar certo, principalmente pela diferença de idade.

Aliás, é interessante notar que tanto o personagem de Hopkins quanto a de sua ex-esposa (Gemma Jones) aparecem sempre em taxis antigos, como se viessem de uma outra época, de uma máquina do tempo, enquanto os demais aparecem em modernos e luxuosos carros. Isso destaca ainda mais a idade dos personagens e é um dos incômodos de Allen, conforme ele tem dito em entrevistas. Assim, a velhice e a expectativa de vida (ou de morte) tem se mostrado presente em seus últimos trabalhos. Ainda assim, não são os personagens mais velhos os mais interessantes do filme, ainda que Hopkins tenha os seus bons momentos. Diria que quem mais se destaca no filme é Josh Brolin, o escritor frustrado. Ainda que o filme não desperte muito interesse em sua relação com a personagem de Freida Pinto, o seu dilema moral acaba se tornando um elemento que, de certa maneira, até remete ao de O SONHO DE CASSANDRA (2007), embora os registros sejam totalmente diferentes. Por falar nisso, estou sentindo falta de outra obra mais dramática de Allen.

Para encerrar, vale destacar a habilidade do diretor em unir as pontas, principalmente no começo do filme, com o narrador contando os eventos que sucederam na vida de todos os personagens, utilizando-se de apresentação bem dinâmica, num primor de edição. A fotografia do húngaro Vilmos Zsigmond retrata muito bem Londres, que na maior parte do tempo parece ensolarada, mas que tem uma bela de uma cena de chuva. No fim das contas, o que parecia ser um filme sobre a esperança, ainda que falsa, acaba se tornando também um filme sobre uma expectativa ruim para alguns personagens. Afinal, a vida é cheia de altos e baixos para a totalidade dos mortais.

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