quinta-feira, novembro 25, 2010
PLANETA TERRA 2010
Encerrando a série de posts sobre a viagem a São Paulo que resultou numa maratona musical e numa celebração de amizades que a distância não tem mais tanto poder assim de separar, escrevo sobre o festival Planeta Terra deste ano. A razão de eu estar lá, todos já sabem: Smashing Pumpkins. E quem me conhece sabe também que eu sou meio que um órfão dos anos 90, o período em que eu descobri de fato o rock e o vivi e apreendi através de discos das mais diversas bandas e épocas, ainda que hoje eu ache que foram poucos os discos comprados. Desse modo, as duas bandas que de fato me interessavam no festival eram o Pavement e os Pumpkins, justamente as duas que encerrariam a festa. Detalhe é que há uma rixa entre as duas bandas, que não se bicam. Não sei se rolou algum fato desconcertante nos bastidores. Mas vamos por partes. E dessa vez, tentando botar um pouco de ordem temporal no texto.
Sábado à tarde, eu, Michel Simões e Tiago Superoito já estávamos às quatro horas em ponto, em frente ao palco principal. Para entrar, rolou um pouco pra mim de frio na barriga. Mas era mais pela possibilidade de eles não me deixarem entrar com minha carteira de estudante internacional, já que no dia anterior o Cinemark havia rejeitado. Por isso, rolou um "yes!" de triunfo ao passar pela última barreira e adentrar finalmente o festival. Fiquei feliz ao ver, sem nem mesmo precisar de ligar pra ele, o meu amigo Alex, outro que havia ido para São Paulo com o objetivo de ver os Pumpkins e outras bandas e que não perdeu a chance de ver o Paul McCartney.
O dia estava quente em São Paulo. Tão ou mais quente quanto um dia normal em Fortaleza. Mas o sol ajudava também a tornar o dia, de certa forma, mais festivo. Havia pouca gente no momento em que os pernambucanos do Mombojó abriram o festival, com um bom show. Só conheço o primeiro disco, que comprei nas bancas, pelo selo do Lobão, e um pouco do segundo. Não é exatamente uma banda que me empolga, mas algumas canções são bem fortes. A banda é um pouco esquizofrênica: tem aquele vocal de mpb, um som sofisticado com uso de flautas e uma guitarra quase punk. Às vezes a liga fica muito boa. Destaques: "Faaca", "Deixe-se acreditar" e "O mais vendido".
Quando o show terminou, fomos dar uma olhada rapidinho no palco menor, onde o Hurtmold estava exibindo seu show experimental. Não aguentamos cinco minutos e voltamos. O lugar era bom para passear também. Ainda que nenhum de nós tenha tido coragem de brincar nos brinquedos do Playcenter, foi bom ver aquela movimentação toda. A organização do festival foi impecável e quase não houve atrasos nos horários previstos. Tudo muito esquematizado. Havia muita gente com camisetas pretas escritas "Zero", que virou uma marca da fase áurea dos Pumpkins.
O segundo show do palco principal foi uma bela de uma surpresa: Os Novos Paulistas. O nome da banda é uma brincadeira em cima de Os Novos Baianos. A essa hora já haviam aparecido o Diego Maia e o Bruno Amato. Os Novos Paulistas fazem um som um pouco difícil de definir, mas que resgata o prazer de ouvir boa música cantada em português. Se bem que eles cantam em inglês também. Os nomes dos cantores: Tiê, Thiago Pethit, Dudu Tsuda, Tatá Aeroplano e Tulipa Ruiz. São vários cantores e vários guitarristas convidados. Nem sempre o som é possível de definir com palavras, mas as canções mais sentimentais me agradaram muito. É uma banda a descobrir. O Michel já conhecia a Tiê, a musa do grupo. Fiquei bem interessado nela. E em sua música também, claro.
Mas se o público pareceu meio blasé durante o show dos Novos Paulistas, o que apareceu de gente para ver o show do Of Montreal não estava no gibi. Pra mim, era uma banda que eu procurei conhecer um pouco por ocasião do festival, mas que apesar dos meus esforços para gostar, não vi nada demais. Porém, o show ao vivo tem a sua graça. É uma espécie de circo gay, com muitas bizarrices e referências pop. De certa forma influenciados pelo glam rock, os caras travestidos do Of Montreal fizeram a festa dos fãs. Diego Maia estava muito engraçado de tão ansioso para ver a banda. Mas eu acabei aproveitando a deixa das ligações dos amigos Pablo e Murilo, que estavam chegando, para cair fora dali e encontrá-los na praça de alimentação. Pra mim foi um alívio. Além de poder bater um papo com eles e com a amiga do Pablo, pude descansar um pouco as minhas pernas cansadas de quem não tem mais tanto gás pra tanta festa. Tanto que durante todo o show do Mika, outro que divertiu a valer o público GLS, ficamos os quatro passeando pelo Playcenter.
O próximo show de interesse foi o do Phoenix, banda nova, mas que já coleciona alguns hits. Eu, pelo menos, conhecia alguns e já havia baixado uns discos deles para saber qual é. A apresentação deles foi bem especial. Para muitos, a melhor da noite. O vocalista se jogou literalmente na multidão, que formou uma espécie de onda humana na parte da frente do palco. Vi o show mais de longe e um pouco disperso. Guardo poucas lembranças e acabei perdendo as poucas fotos que tentei tirar da banda.
Pouco depois do show do Phoenix, encontramos Michel, Tiago e Bruno. Mas resolvi acompanhar o Pablo e ir até a frente para ver o Pavement mais de perto. E foi mesmo muito bom. Dei bons e animados pulos durante algumas canções, como "Stereo" (bom demais pular com essa música), "Stop Breathing", "Elevate me later", "Silence Kid" e "Range life". Gostava particularmente quando o sujeito que faz os backing vocals tomava os vocais principais e deixava o som mais catártico e gritante, mais característico dos anos 90.
Depois do Pavement, nem me dei ao trabalho de voltar para onde a turma estava. Aproximei-me o mais perto possível do palco para esperar durante meia-hora a apresentação dos Pumpkins. Afinal, era a razão de eu estar ali. A disputa por metro quadrado estava acirrada e o Murilo mal conseguiu vencer a barreira para me encontrar lá na frente. Já sabia que Billy Corgan não é exatamente um cara generoso e faz o que bem entende. Quando quer, faz shows apenas com essas canções novas e sem inspiração de quando ele voltou com a banda, em 2007. E como ele não deve ser muito fácil de lidar, acabou perdendo também o único membro da formação inicial, o baterista Jimmy Chamberlain. Em seu lugar, havia um moleque de uns quatorze anos, que dá a entender que ele escalou como uma espécie de vingança para Chamberlain. Os outros membros são versões boas de James Iha e D’Arcy. E pelo menos a baixista, além de ser uma belezura, mandou muito bem.
O show começou com faixas novas e recepção morna do público. Por isso, quando os acordes iniciais de "Today" tocaram, o público arrepiou e pulou intensamente. Foi lindo ver todo mundo cantando e sorrindo em uníssono. Pena que esse foi um dos momentos realmente belos do show. As novas canções desanimam e tiram um pouco da graça da apresentação, por mais que estejamos com boa vontade de conhecê-las. "A song for a son", por exemplo, parece ter o seu valor entre as novas, mas não passa de sombra daquilo que de bom Billy Corgan compunha nos inspirados anos 90. Outros grandes momentos foram de MELLON COLLIE AND THE INFINITE SADNESS: "Bullet with butterfly wings", em que eu me juntei pulando selvagemente como "a rat in cage" do refrão. E não deixa de ser interessante ver Corgan cantando esse tipo de música num momento mais cristão dele. Essa e "Zero" também, que são quase como canções de desencanto, de negação de Deus.
Quando voltei lá para trás para me juntar ao restante da turma, já perto do final do show, testemunhei uma moça chorando muito ao ouvir "Stand inside your love" e fiquei refletindo sobre a importância dessa música para a vida dela. E pude presenciar o momento mais belo da noite: "Tonight, tonight". Foi de arrepiar. Até olhei para a lua, que estava cheia e de frente para o palco, como se assistindo aquele momento. Depois, ele voltaria apenas para um curto bis: "Heavy metal machine", bem mais longa e barulhenta. E embora não seja exatamente fã dessa música, a imagem no telão da guitarra em cima da caixa de som provocando uma zoeira infernal deve ficar gravada nas nossas retinas por um bom tempo.
Clique AQUI para ver algumas fotos do evento.
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