quarta-feira, setembro 29, 2010

QUATRO CURTAS



Quando tempo é artigo de luxo, temos que ser objetivos. E uma maneira de ser objetivo num blog de cinema é escrevendo textos curtos e grossos. Como vi recentemente dois curtas cearenses, em eventos relacionados à escola onde ensino, aproveitei para juntar ao pacote duas obras do início da carreira de dois grandes cineastas: Eric Rohmer e Julio Bressane. Aos filmes, que o tempo urge.

VÉRONIQUE ET SON CANCRE

Realizado imeadiatamente antes da estreia na direção de longas de Eric Rohmer com O SIGNO DO LEÃO (1959), VÉRONIQUE ET SON CANCRE (1958) ainda não carrega aquela marca forte que caracterizaria o seu cinema, mas já demonstra pleno domínio de câmera e diálogos e tem a cara da nouvelle vague. Na trama, uma mãe pede a uma moça que ajude o seu filho nas atividades escolares. O garoto vai tão mal em Matemática quanto em Francês. O menino acaba tirando onda da professora, que fica sem saber responder algumas de suas perguntas. Destaque para a câmera mostrando os pés da jovem, já antecipando o erotismo sutil que apareceria em obras posteriores.

BETHÂNIA BEM DE PERTO - A PROPÓSITO DE UM SHOW

Recorte de uma época, BETHÂNIA BEM DE PERTO - A PROPÓSITO DE UM SHOW (1966) mostra uma jovem estrela da música, já assediada por empresários para fazer shows na Europa. Ela dá à câmera de Júlio Bressane e Eduardo Escorel algumas opiniões, nem sempre audíveis, sobre preferências musicais, sobre gostar de cantar nos extremos, seja pianinho, seja quase gritado. As imagens em preto e branco das ruas são um belo e estiloso retrato do Brasil de meados dos anos 60. Caetano Veloso, o irmão atencioso, intervém bem menos do que eu esperava. Belíssima a canção final - "Apelo (Meu Amor Não Vás Embora)", composta por Baden Powell & Vinicius de Moraes.

VIDA MARIA

Se a produção de animações em CGI no Ceará ainda é incipiente, com VIDA MARIA (2006), as supostas deficiências técnicas - se compararmos com Pixar e afins -, são compensadas com criatividade e sensibilidade. A produção arrepia ao mostrar a passagem dos anos e a maldição de gerações que não têm oportunidade de estudar. O filme vai muito além da função de refletir sobre a necessidade da escola, mostrando a força impiedosa da passagem do tempo. Excelente utilização da música e da simulação das câmeras em movimento. Parabéns ao diretor Márcio Ramos.

VOCÊ VIU A ROSINHA?

Ao contrário de VIDA MARIA, VOCÊ VIU A ROSINHA? (2008) é apenas um filme que atende a seus propósitos: denunciar a exploração do trabalho infantil e servir como representação de algo comum: crianças pobres sendo levadas para casas de famílias ricas para trabalharem como domésticas, sem remuneração e sem direito a educação. Com um olhar mais exigente, vê-se uma dramaturgia pobre, mas, ainda assim, tem o mérito de prender a atenção até o fim. Direção de Célia Gurgel e Armando Praça, o curta pode ser conferido em duas partes no youtube.

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