segunda-feira, setembro 06, 2010

NOSSO LAR



"Comamos e bebamos, que amanhã morreremos".
(I Coríntios 15:32b)


Como diz o texto do apóstolo Paulo, acima, eu cheguei a pensar, vendo os espíritos dos mortos só tomando água e sopa sem gosto na colônia Nosso Lar, que devemos aproveitar mesmo os prazeres sensoriais enquanto estamos vivos. Mas ao mesmo tempo, não devemos nos apegar demais ao físico. É algo que parece contraditório, mas tudo depende da consciência. Lembro das palavras de Osho, que dizia que poderíamos fazer o que quiséssemos, mas que estivéssemos conscientes. Estar consciente parece ser a chave para se ter uma boa travessia. Mas não apenas, de acordo com o que vemos no segundo filme espírita brasileiro do ano.

NOSSO LAR (2010), se não tem a mesma qualidade de dramaturgia e de direção de CHICO XAVIER, de Daniel Filho, também não é um filme que deva ser desprezado ou visto apenas como veículo de divulgação do Espiritismo Kardecista. Claro que o filme possui inúmeros problemas. Como as cenas no purgatório, por exemplo, que destoam das cenas na cidade de luz que acolhe os espíritos desencarnados. Essas contaram com efeitos visuais da equipe de WATCHMEN. Ao mesmo tempo, fica algo de brega ou datado no modo como aquele cenário de ficção científica é mostrado, com suas camas suspensas e seus computadores de "última geração", com direito a arquivos contendo as orações das pessoas na Terra pelo morto.

O protagonista de NOSSO LAR é André Luiz, interpretado pelo ator de teatro Renato Prieto. Ele é um médico dos anos 30/40 que, como muitos profissionais da área, não prestam serviços gratuitos à comunidade. Depois de passar um longo tempo numa espécie de purgatório, sentindo dores no corpo e na alma, ele é resgatado por espíritos de luz, que o levam para um lugar onde poderá ser tratado. Ele acorda atordoado, sendo monitorado por Lisias (Fernando Alves Pinto), que diz que todas as respostas para suas perguntas aparecerão no devido tempo.

Uma das personagens mais interessantes e que pelo menos destoa daquele cenário cheio de gente vestida de branco é Eloisa, vivida por Rosane Mulholland, que aliás, é a única que não aparece de branco, entre os já recuperados, se eu não me engano. Ela também parece ser uma das poucas que se rebelam com o fato de estar morta e quer voltar para a Terra, para o seu namorado. A personagem seria melhor aproveitada se as suas falas e a direção de atores não fosse tão ruim.

O responsável pela direção do filme, cujo nome só aparece nos créditos finais, é Wagner de Assis, diretor de A CARTOMANTE (2004) e roteirista de quatro filmes da Xuxa. Mas creio que ele prefira que não espalhem isso pra ninguém, a fim de não queimar o filme do filme. A seu favor, além dos já citados efeitos visuais, também são importados a trilha sonora, de Phillip Glass, e a direção de fotografia, de Ueli Steiger, de O DIA DEPOIS DE AMANHÃ, entre outros trabalhos para Roland Emmerich. Werner Schünemann é o famoso espírito Emmanuel e Othon Bastos é o Governador da colônia, que conta com uma sala com símbolos de várias religiões. Afinal, o filme tem a intenção de falar a todos.

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