sexta-feira, agosto 27, 2010

I'M HERE



Tempo é artigo raro e de luxo nos dias de hoje. E tenho tentado aproveitá-lo à minha maneira. Pena que nem sempre a minha maneira é a mais saudável. Não que eu tenha o hábito de sair para beber e chegar no trabalho com bafo de cerveja. Mas não tenho mais vinte anos e dormir perto de uma hora da manhã e acordar perto das seis e meia para trabalhar os três turnos não é mole. O ideal seria chegar e dormir logo. Quem sabe ler um trecho da biografia dos Beatles e dormir o mais cedo que puder. Mas eu não me conformo. Não me conformo em chegar em casa tarde e não ter um tempo para mim. Não me dar o direito de ver nem que seja um trecho de um filme ou um episódio de uma série. Aí quando olho para o relógio já passa de meia-noite. Ontem escolhi I'M HERE (2010), curta-metragem de meia hora de Spike Jonze. Para não deixar o blog ficar parado, vou recorrer a filmes curtos de vez em quando.

I'M HERE foi muito citado na época em que eu escrevi sobre ONDE VIVEM OS MONSTROS (2009), que não fez muito a minha cabeça. O curta seria a sua obra-prima, o seu filme mais pessoal. Não sou muito fã do trabalho de Spike Jonze como cineasta, mas curto muito alguns de seus videoclipes, que se tornaram clássicos, como "It's, oh, so quiet", da Björk (meu preferido); "Undone (The Sweater Song)" e "Buddy Holly", ambos do Weezer; "Praise you", do Fatboy Slim (puxa, essa eu dancei muito nos anos 90); "Sabotage", dos Beastie Boys, entre outros de um tempo em que o videoclipe atingiu o seu auge e a MTV era uma emissora bem bacana. E se os vídeos eram trabalhos de encomenda, apesar de se notar uma maior inventividade em seu trabalho, o que ele fez patrocinado pela vodca Absolute é algo bem tocante.

Pode-se ver o filme por pelo menos dois prismas: a) considerar uma bela história de amor sobre o quanto alguém é capaz de se doar pela pessoa amada; ou b) do quanto a pessoa fica cega quando ama alguém, até chegar ao ponto de perder tudo, de chegar ao fundo do poço. I'M HERE é uma história de amor entre robôs, num mundo onde eles e os humanos convivem juntos. Mas os robôs são desprezados pelos humanos, são indignos de sua atenção, até. E com o tempo, eles começam a tentar mostrar que também têm sentimentos e direitos, que podem apreciar uma boa música, ir a festas e até dirigir carros, um ato proibido, transgressor. O filme tem desde o primeiro ao último fotograma uma melancolia que invade o espírito. Só a solidão de ver o robô com cara de CPU velha chegando em seu quarto e ligando a tomada para dormir (recarregando as baterias) já aponta um filme triste. Mas quem disse que as coisa não podem piorar? Ou melhorar, se estar ao lado de quem você ama, mesmo em condições não lá muito boas, é a melhor coisa do mundo.

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