segunda-feira, junho 28, 2010

BRILHO DE UMA PAIXÃO (Bright Star)



Interessante a trajetória de Jane Campion. Quando o tom de seus filmes parecia se voltar para algo mais visceral e moderno, como em FOGO SAGRADO! (1999) e EM CARNE VIVA (2003), ela dá um passo atrás e volta com o andamento lento de RETRATO DE UMA MULHER (1996) e O PIANO (1993). Talvez para filmes de época ela prefira assim. E não vejo nenhum problema com isso, a não ser o fato de ela não conseguir expressar de maneira pungente a dor de suas personagens. Fica na retina uma beleza plástica, uma sutileza que lembra até alguns trabalhos de Luchino Visconti - ainda que seja até exagero ficar comparando Campion com Visconti. Independente de comparações, BRILHO DE UMA PAIXÃO (2009), o mais novo filme da diretora neozelandeza, retrata o amor de uma jovem mulher por John Keats, considerado o último e maior dos poetas românticos ingleses que, como tantos de seus contemporâneos, morreu jovem, devido à tuberculose.

Porém, diferente do que dá a entender quando se estuda o romantismo nos livros, em especial, o ultra-romantismo, John Keats não escrevia sobre o amor impossível porque achava belo, mas porque realmente vivenciava uma paixão complicada. Nas biografias de Keats encontradas nos livros conta-se de sua paixão por uma jovem chamada Fanny Brawne, no filme, vivida pela bela Abbie Cornish, que tem aqui o melhor desempenho de sua carreira. Keats (Ben Wishaw) não tinha dinheiro para casar com Fanny e, para piorar a situação, contrai tuberculose, tendo que se mudar para a Itália, onde passa os seus últimos dias. O que é interessante nos ingleses é a forma como eles conservam aquele ar de nobreza, mesmo estando sem um centavo. Pobres, mas com glamour. Por isso BRILHO DE UMA PAIXÃO lembra as adaptações para o cinema de obras de Jane Austen, a autora do período vitoriano que enfatizava os problemas financeiros de modo quase tão importante quanto as paixões.

BRILHO DE UMA PAIXÃO não traz planos longos, o que de certa forma dá mais agilidade à narrativa. Mas a impressão que fica é de houve muitos cortes, de que poderia ser um filme um pouco mais contemplativo. É como se estivesse faltando mais momentos do casal juntos ou até separados. Nem os poucos beijos que vemos entre os dois parecem carregados de paixão. Principalmente da parte de Keats. Já Abbie Cornish, principalmente nos momentos da ausência do amado, dá um show de interpretação de sua dor, embora tudo seja muito contido, exceto pelas sequências finais. Trata-se de um filme que talvez ganhe com uma revisão, gostando-se dele pelo que é e não pelo que poderia ter sido.

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