quarta-feira, março 10, 2010

CIDADÃO KANE (Citizen Kane)























PB: O que você achou quando ganhou o Oscar de melhor roteiro original?
OW: Você é um inferno. Sempre neguei isso. Sempre fingi não ter ganho um Oscar.
PB: Bom, o filme foi indicado a nove categorias, aquele ano, para diretor e...
OW: Esqueça. Está estragando tudo.
(Entrevista de Orson Welles a Peter Bogdanovich em "Este É Orson Welles")


Acho que nunca consegui amar de verdade CIDADÃO KANE (1941) pelo fato de o filme ser muito escuro. A fotografia excessivamente contrastante acaba me dando dor de cabeça e diminui o prazer que geralmente se sente vendo um grande filme. Também não me emociono com o drama dos personagens e acaba sendo um filme que vejo com certo distanciamento, de forma analítica. Mas é o tipo de obra que deve ser revista pelo menos de dez em dez anos. Das duas vezes que tinha visto, foi em vhs, o da Continental e aquele da coleção Altaya, lançado em banca. Já faz um tempão. Com o tempo, com o conhecimento de cinema que a gente vai adquirindo, os aspectos formais que tornaram o filme tão famoso vão se tornando mais visíveis.

Desta vez, a apreciação do filme veio com um pacote, contendo o livro de entrevistas "Este É Orson Welles" e o documentário presente no dvd duplo da Warner A BATALHA POR CIDADÃO KANE (1996). Com o documentário, eu fiquei sabendo até mesmo o que é "rosebud". Seriam as "partes pudendas" de uma das esposas de William Randolph Hearst. Uma das várias provocações de Welles a Hearst. Não é pra menos que o magnata ficou tão puto com o diretor. E por pouco o negativo não foi destruído. A palavra "rosebud" é discutida até hoje, como sendo um dos maiores enigmas do filme.

O que mais impressiona, vendo CIDADÃO KANE e sabendo a trajetória de Orson Welles, é o quanto o diretor se tornaria parecido com o protagonista de seu mais famoso filme. É como se ele tivesse sido possuído pelo espírito de sua criatura. Interessante que, durante a entrevista, Welles demonstrou muita má vontade de falar sobre seu primeiro filme. Talvez porque seja sempre o filme de que todo mundo quer falar a respeito. Ainda assim, Bogdanovich conseguiu tirar muita coisa dele. E histórias interessantes aparecem, como a luta pelo seu filme; a má distribuição que teve, por causa da forte influência de Hearst nos meios de comunicação; o dia do encontro de Welles com Hearst; a importância do diretor de fotografia Greg Toland; entre outras curiosidades.

CIDADÃO KANE sofre da síndrome de primeiro filme, da vontade de mostrar muito serviço. Mas é justamente por isso que é tão admirado por cinéfilos e estudiosos de cinema. A profundidade de campo realmente impressiona. Principalmente numa das primeiras cenas, a que mostra a infância de Kane. Welles também usou muitas trucagens, que ficaram perfeitas na fotografia em preto e branco. Outra coisa inédita foi não mostrar os créditos no início. O filme já começa com aquele falso documentário ("A Marcha do Tempo"), que na minha memória era muito mais longo. Depois entra a sequência de Kane morrendo com tomadas de teto e outras aproximadas, da mão e da boca. Pensando no filme, ele cresce muito mais do que assistindo.

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