Que beleza de filme que é este MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS (1988), hein! Na minha lembrança, o filme não era tão bom, da primeira vez que o assisti, em vhs. E na minha confusa memória o filme era mais cômico, histérico e mais distribuído nos vários personagens. Desta vez, eu quase não consegui ver o filme como uma comédia. Isso, aliás, tem acontecido com quase todos nessa minha revisão da obra de Pedro Almodóvar. Excetuando PEPI, LUCI, BOM E OUTRAS GAROTAS DE MONTÃO (1980), que é bem anárquico e divertido, todos os demais filmes do diretor parecem impregnados de uma forte melancolia, que às vezes se esconde em interpretações espalhafatosas e personagens caricaturescos. E outra coisa que eu percebi melhor com a revisão de MULHERES À BEIRA... foi a chamada "overdose de Carmen Maura", como assim comentou o diretor na entrevista contida no livro "Conversas com Almodóvar". Trata-se do melhor desempenho de Carmen Maura. O filme marca também sua última parceria com Almodóvar, até o seu retorno em VOLVER (2006).
Ela se destaca muito em relação às demais personagens. Por isso, acho o título do filme, de certa forma, até enganoso, já que não destaca tanto assim as coadjuvantes. Ao nos aproximarmos de Pepa (Carmen Maura), já a partir do começo do filme, com voz em off, todas as demais se tornam menos importantes. Até porque o filme não lhes dá o mesmo espaço. O fato é que os problemas das outras não parecem tão interessantes ou importantes quanto o problema de Pepa. Quem nunca ficou louco tentando falar com alguém pelo telefone, não conseguir e ficar muito mal com isso que atire a primeira pedra. Por isso que é até fácil se identificar com Pepa. Ainda mais nos dias de hoje, onde o estresse é maior e o uso de pílulas calmantes ou antidepressivas é cada vez mais comum.
Uma das coisas que primeiro salta aos olhos no filme são os belíssimos créditos de abertura, ao som de "Soy infeliz", de Lola Beltrán. A canção mexicana é carregada de dor e a beleza das imagens em papel acetinado são encantadoras. A bela colagem lembra algumas aberturas de filmes de James Bond. Depois, vemos a beleza dos cenários, lindamente realizados em interiores. Depois de usar muitos cenários externos nos trabalhos anterioers, Almodóvar se esbaldou no estúdio, onde pôde trabalhar melhor sua paleta de cores, dessa vez com o diretor de fotografia José Luis Alcaine. Dentro do estúdio, Almodóvar teve maior liberdade para transformar o ambiente da maneira que bem queria. E mostrou o quanto era dedicado a cada detalhe, como as roupas das atrizes, a decoração de ambientes e até mesmo os variados rostos das intérpretes. Destaque para Rossy de Palma e seu enorme nariz e a cara de doida de Julieta Serrano.
Apesar de bem menos ousado do que suas obras anteriores, no quesito sexo, MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS alcançou lugar privilegiado no meu ranking de favoritos de Almodóvar.
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