quinta-feira, janeiro 14, 2010

O SANGUE























Muito provavelmente, pelo pouco que li a respeito de Pedro Costa, O SANGUE (1989), seu longa-metragem de estreia, não é tão representativo do tipo de cinema que ele faz hoje. Inclusive, pretendo ver em breve algo mais recente desse diretor tão elogiado pelos cinéfilos mais exigentes. O que recomendam? JUVENTUDE EM MARCHA (2006)? Dizem que O SANGUE é o filme mais clássico-narrativo de Costa. Sendo assim, imagino como deve ser vanguardista e incomum o seu cinema hoje. De todo modo, ver O SANGUE é uma oportunidade de conhecer um filme único. Confesso que não foi tão fácil. Vez ou outra eu me sentia perdido, me dispersava. E não gosto muito de seu terço final, a partir da captura do menino pelos tios.

O que mais gosto no filme é do clima de mistério, da beleza da fotografia em preto e branco de alto contraste. Inclusive, ter uma moça chamada Clara e um cachorro chamado Escuro na história não deve ser à toa. A cópia que eu peguei foi ripada de um dvd remasterizado. Excelente. Com sorte, havia legendas em inglês, pois é impressionante como eu não reconheço a nossa própria língua no cinema português. Talvez seja mais fácil entender um filme argentino sem legendas.

Ainda que o ideal seja rever o filme, para entender e absorver melhor a atmosfera, a ideia é mesmo escrever sobre as primeiras impressões, ainda que confusas. O fato de o filme ter várias sequências oníricas também o torna fácil de ir para o subconsciente e para o esquecimento mais rapidamente. Mas ficam alguns flashes, algumas imagens poderosas, como a da grande árvore do bosque. O grande momento do filme, até pela aproximação com o cinema de suspense, é a sequência em que Clara e Vicente saem pelo bosque para enterrar o corpo do pai do rapaz. Inclusive, essa cena me pegou tão de surpresa que eu voltei um pouco para ver se havia perdido alguma coisa. Houve uma elipse da cena da morte do pai de Vicente. E estes saltos temporais são bem comuns no filme, que aposta na atenção do espectador. O que me fez lembrar imediatamente o cinema de Robert Bresson.

Também chama a atenção, logo que o filme começa, os fade in blacks demorados, aumentando o tempo de escuridão de um filme cuja maior parte das cenas se passa à noite. Interessante também a força do título, que abarca múltiplos significados. E a memória, ainda que nebulosa, da cena de Clara e Vicente, ela em cima dele, perto de um lago, é talvez o momento mais surpreendente dessa obra cheia de mistério.

Na Foco - Revista de Cinema, tem um excelente texto sobre o filme, escrito por João Bénard da Costa.

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