quarta-feira, janeiro 20, 2010

DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU SEI DELA (2 ou 3 Choses que Je Sais d'Elle)























Lá se vão três anos desde a última vez que vi um filme de Jean-Luc Godard. Será que MADE IN U.S.A. (1966) me deixou tão traumatizado assim? Lendo o texto que escrevi sobre o filme, que pode ser conferido no arquivo de janeiro de 2007, até que minhas impressões soaram simpáticas. Mas é que Godard sempre cresce quando escrevemos a respeito. Pois escrever força a reflexão. E se há três anos eu reclamava da trama confusa, em DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU SEI DELA (1967), Godard deixa de lado completamente a história. E por mais que seja um filme mais agradável de ver que MADE IN U.S.A., DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU SEI DELA é um filme menor, tem menos momentos memoráveis que o anterior, de certa forma mais modesto.

DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU SEI DELA é jazzístico, cheio de improvisos. Não há uma linha narrativa. Não há uma preocupação com uma história. Godard filma pensamentos que vêm na forma de narrações sussurradas pelo próprio cineasta ou através de personagens falando para a câmera. Os pensamentos parecem vir de forma aleatória. Inclusive, há cenas de jovens anotando/lendo trechos aleatórios de diversos livros. Talvez isso seja um pouco a maneira de Godard de filmar ou de pensar, já que muitas vezes os pensamentos invadem nossa mente de forma estranha. Como se não fossem nossos.

Outro elemento constante no filme são as cenas que mostram máquinas trabalhando na construção de edifícios. O barulho das máquinas contrasta com os silêncios bruscos. Os enquandramentos aproveitam bem a tela larga, filmada com cores vivas e belas. No campo das ideias, há uma crítica à política de Johnson e sua postura em relação à Guerra do Vietnã, que repercutia na época. As tendências anti-capitalistas de Godard mais uma vez se destacam, numa preparação para o filme seguinte, A CHINESA (1967). Não sei bem o que Godard quis dizer com a cena do americano que pede para as duas prostitutas colocarem bolsas de companhias aéreas na cabeça. Seguramente é mais uma crítica à política dos Estados Unidos.

Ver Godard é sempre bom, no sentido de que estamos nos conscientizando de algo, nem que seja de nossa própria ignorância. Mas no caso desse filme, há bem menos citações literárias. Há mais conversas sobre "banalidades", como o fato de a chuva deixar (ou não) as pessoas tristes e há cenas como a rotina da protagonista (Marina Vlady) de escolher roupas numa loja. Como é comum em seus filmes, há uma necessidade de evitar o campo/contracampo o máximo possível. Durante uma conversa, Godard prefere se ater no rosto de determinado ator/atriz por um tempo e só depois mostrar o outro por mais um longo tempo. Destaque para a cena de estranhos conversando num bar com a câmera estática. Isso é uma tendência em todo o filme. Tanto que quando vemos uma panorâmica com a protagonista falando e a câmera nos mostrando os vários prédios que a circundam fica uma sensação agradável no ar. E o que é aquele final? O que representam aquelas caixas de sabão dispostas de maneira estranha? É Godard mais uma vez deixando o espectador com uma pulga atrás da orelha. E pouco se lixando se vai perder audiência com essas estripulias.

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