segunda-feira, janeiro 25, 2010
AMOR SEM ESCALAS (Up in the Air)
Seguindo o rastro deixado por JUNO (2007) e por uma tendência do cinema atual de acentuar o desencanto diante do amor e do sucesso nos relacionamentos, cada vez mais o cinema tem se mostrado mais realista diante do assunto. AMOR SEM ESCALAS (2009), de Jason Reitman, segue a vida de um homem solitário que passa a maior parte de seu tempo em voos. Seu trabalho é informar a demissão de funcionários. Sua empresa é contratada exclusivamente para fazer isso, preparando de uma forma menos traumática o demitido para a nova fase de sua vida.
Reitman tem se especializado em mostrar a frieza do mundo diante de situações complicadas. Assim como o lobista de OBRIGADO POR FUMAR (2005), o personagem de George Clooney em AMOR SEM ESCALAS faz o que faz porque é o que ele sabe fazer melhor. Não tem esse negócio de ficar com remorso porque está demitindo pais de família ou senhores idosos com chances nulas de conseguir outro emprego. Além do mais, seu trabalho é uma ótima desculpa para evitar as pessoas, inclusive seus familiares, e viver uma vida solitária por escolha própria. Não é preciso lembrar que quando estamos muito ocupados com a vida profissional é muito mais fácil esquecer que estamos sozinhos, que precisamos do outro.
Em sua rotina de trabalho, onde o status é mais importante do que os relacionamentos, o personagem de Clooney encontra uma mulher que tem uma vida parecida com a sua (Vera Farmiga): a agenda cheia, mas a possibilidade de se encontrarem com certa frequência. "Pense em mim como você com uma vagina", ela diz, a certa altura do filme. O mundo do executivo começa a balançar quando a sua empresa inicia um processo de demissão pela internet, usando webcams. O que é ainda mais cruel e impessoal. A autora da proposta é a jovem vivida por Anna Kendrick, que é convidada a acompanhar a rotina de Clooney e se depara com a crueldade de seu trabalho. E é com a possibilidade de deixar de voar e ter de se fixar num único lugar que Clooney perceberá, pela primeira vez, o que é sentir-se sozinho.
O filme usa de alguns recursos bem clássicos para explicitar a solidão de seus personagens. O mais comum é o da câmera se afastando do personagem num travelling. Embora seja um recurso utilizado há muito tempo, não deixa de se notar a habilidade de Reitman. Há outra cena bem interessante, que é quando a personagem de Anna Kendrick está cantando bêbada num karaokê e a câmera se afasta e sai da janela do iate, revelando Clooney e Farmiga sentados do lado de fora, com os pés dentro d'água. Tecnicamente, talvez seja o recurso mais sofisticado do filme, que no geral é bem discreto. Senti falta de mais emoção. JUNO, que também tem um protagonista com um jeitão meio cínico de encarar a vida (no caso, uma protagonista), é muito mais eficiente no campo das emoções.
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