sexta-feira, outubro 02, 2009
THE BROOD - OS FILHOS DO MEDO (The Brood)
"I can't tell you how satisfaying the climax is. I wanted to strangle my ex-wife."
(David Cronenberg)
A leitura do livro "Cronenberg on Cronenberg" tem feito com que eu admire ainda mais o homem. Ele não é apenas um dos maiores cineastas vivos do mundo, mas também um grande pensador. Tenho me deliciado com algumas opiniões interessantes dele, a respeito de suicídio, sexo, doenças, morte, revolução, "filmes parasitas" (que é o que ele chama os filmes que derivam de outros filmes) e ficamos sabendo até de coisas bem pessoais de sua vida. Fiquei sabendo que o roteiro de THE BROOD - OS FILHOS DO MEDO (1979) foi o mais pessoal que ele escreveu. Pelo menos até o momento da entrevista, dada no início da década de 90. Na época da realização do roteiro de THE BROOD, Cronenberg estava passando por problemas com sua ex-esposa, quando ela falou para ele que estava se mudando para a Califórnia e que levaria sua filha junto. Ele disse ok pelo telefone, mas chegou a "sequestrar" a criança na escola, num ato impulsivo.
O filme também mostra uma situação de rivalidade entre um casal separado, mas como é comum nos filmes de Cronenberg as coisas não são assim tão próximas da realidade. Na verdade, dos trabalhos de Cronenberg, talvez THE BROOD seja o mais surreal, já que o que vemos é algo fantástico acontecendo dentro de um cenário realista, naturalista até. É diferente dos dois anteriores, CALAFRIOS (1975) e ENRAIVECIDA - NA FÚRIA DO SEXO (1977), que já tinham uma atmosfera de filme B de terror. THE BROOD é mais sofisticado. Constrói seus alicerces a partir de uma trama aparentemente banal, de um homem que cria a filha pequena, enquanto a esposa está num sanatório. Mas não se trata de um sanatório qualquer, mas de um lugar onde um médico excêntrico realiza terapias psicoplásmicas, onde os pacientes têm a chance de descarregar as suas raivas e angústias. Assim, o filme lida com a materialização dos medos e dos aspectos mais negativos das pessoas.
O filme tem um andamento bem diferente do das obras anteriores. Apesar de ser geralmente descrito como o terceiro da "trilogia B" de Cronenberg, ele se destaca dos outros dois por ser mais lento e mais realista. Por essa razão é que chega a ser uma surpresa quando surge a primeira cena fantástica do filme, que é quando a avó de Candy, a filha do protagonista, é assassinada por algo parecido com uma criança, mas com uma aparência horrenda. A morte é brutal e surpreendente. A partir desse instante o filme trafega num território que oscila entre o real e o fantástico, até chegar na famosa sequência em que Samantha Eggar, no papel da esposa louca do protagonista, mostra o seu ventre.
E interessante notar que nos filmes de Cronenberg, mesmo os que aparentemente chegam a um final relativamente feliz - já que é impossível estar feliz depois de tanta tragédia -, o cineasta sempre encontra uma maneira de nos mostrar que o pior não passou. Sobre isso, na entrevista Cronenberg conta que THE BROOD é o filme de horror mais clássico que ele fez, falando justamente dessa ideia de que tudo de ruim já passou, mas que no final sabemos que está apenas começando novamente. Isso se tornou um clichê dos filmes do gênero. O fato de ter uma direção mais sofisticada que as obras anteriores, porém, foi um problema na hora da distribuição do filme nos Estados Unidos, que o vendeu como um filme de horror convencional, quando na verdade THE BROOD poderia ter tido um público mais amplo. Mas isso é algo que ainda acontece com filmes de horror mais ambiciosos hoje em dia.
Agradecimentos a Davi Pinheiro pela cópia do livro de entrevistas.
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