quinta-feira, setembro 17, 2009
UMA CANÇÃO DE AMOR (Le Chant des Mariées)
Antes de mais nada, vou reclamar mais uma vez da escura cópia digital da Rain, que prejudica a apreciação deste UMA CANÇÃO DE AMOR (2008), o mais novo trabalho de Karin Albou. E como o trabalho anterior da cineasta, o ótimo A PEQUENA JERUSALÉM (2005), tinha uma fotografia de dar gosto, dá pra imaginar o quanto se perde assistindo o filme por essa via.
Nascida na França, de uma família judia oriunda do norte da África, Albou é uma autoridade tanto em cultura hebraica quanto árabe. Em UMA CANÇÃO DE AMOR, Albou muda de tempo e espaço. Sai da França contemporânea e vai para a Tunísia de 1942, época em que a França estava ocupada pelos alemães e os judeus que viviam na colônia começavam a sentir o baque da chegada dos nazistas. A cada bombardeio anglo-americano, os líderes nazistas que já haviam tomado o país cobravam multas exorbitantes a serem pagas pelos judeus, que, vindos em sua maioria da França, faziam parte da elite do país, tendo, inclusive, preconceito com os "nativos", os africanos que adotavam o islamismo como religião oficial e modo de vida.
No meio de tanta divisão, há uma amizade bonita entre duas jovens: uma judia e uma muçulmana. Elas mantêm uma amizade desde a infância e agora que chegaram à idade de casar, a situação das duas é agravada pela guerra. O namorado de Nour, a islamita, chega a trabalhar para os nazistas. Enquanto isso, a judia Myriam sofre com a imposição da família para que ela se case com um homem que não gosta, mas que pode ajudá-los financeiramente na situação complicada em que vivem agora.
O filme ainda conta com curiosidades das duas culturas. O momento mais memorável do filme acaba sendo a cena de depilação com cera que uma das moças recebe para ficar preparada para a lua de mel. Para as brasileiras, adeptas da hoje conhecida "Brazilian wax", a cena talvez nem tenha tanto impacto, pois já faz parte da rotina, por mais doloroso que isso seja. No filme, é citado como uma preparação "à oriental", que foi como o noivo preferiu. Fica subentendido, então, que "à ocidental" seria sem depilação.
E falando nisso, lembrei que dia desses, conversando com um amigo sobre circuncisão, ele comentou que o Brasil adota o estilo francês, que é não operar o pênis, diferente dos Estados Unidos, que segue a tradição judaica de levar a faca ao pênis para retirar a pele. E falando sobre depilação e circuncisão, acabei escrevendo demais e ficando sem dar as considerações finais sobre o filme. Que é digno de interesse tanto para os aficionados pela Segunda Guerra Mundial, quanto para os interessados nas culturas judaica e islamita.
P.S.: Tem edição nova da Revista Zingu! no ar. Tem Dossiê João Callegaro e especial José Agrippino de Paula, o escritor underground que chegou a dirigir um longa-metragem: HITLER IIIº MUNDO, resenhado por Sergio Alpendre. Como destaque na seção de lançamentos em DVD, um dos meus filmes preferidos: O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS, de Don Siegel. Outro destaque da edição é uma matéria (assinada por Alan Smithee) que fala sobre o bestialismo no pornô nacional.
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