quarta-feira, setembro 09, 2009
MAUS HÁBITOS (Entre Tinieblas)
Desde junho que não via nenhum filme do Almodóvar. Espero não demorar tanto a dar continuidade à revisão da sua obra. Se bem que revisão mesmo vai ser a partir do próximo, já que os dois primeiros longas e este MAUS HÁBITOS (1983) eram até então inéditos para mim. E embora não esteja entre suas melhores obras, MAUS HÁBITOS é um belo filme. E já um trabalho de ruptura. Por mais que as situações sejam motivo de riso, o registro escolhido por Almodóvar é o de um filme sério. É o que chamam de falsa comédia. A começar pelos créditos iniciais, ao som de uma música bem melancólica, enquanto vemos os prédios de uma cidade (Madri?) ao fundo. Mas foi justamente esse tom mais melodramático que me fisgou. Adoro, por exemplo, uma cena musical onde a protagonista canta um bolero bem dor-de-cotovelo com uma das freiras.
Vale dizer que as freiras são a melhor coisa do filme. Almodóvar não gostou do desempenho da protagonista, Cristina S. Pascual, que só estava no filme porque era mulher (ou namorada) do produtor. MAUS HÁBITOS, aliás, foi o primeiro filme de Almodóvar com uma produtora de verdade financiando o projeto e dando melhores condições de trabalho para ele e a equipe. Se o filme perdeu um pouco da velocidade e do lado moleque dos dois longas anteriores foi por escolha do diretor. O que acabou resultando em algo mais rico, um objeto híbrido e estranho, mas que já apontava para a sofisticação visual que seria marca dos filmes seguintes do diretor.
Na trama, Yolanda (Pascual) é uma cantora de bolero que foge de um grupo de traficantes depois que o amante morre de overdose e vai se esconder num convento decadente, prestes a ser fechado, onde um pequeno grupo de freiras faz coisas proibidas como escrever novelas eróticas e usar drogas (heroína, cocaína). No convento, a Madre Superiora (Julieta Serrano) é apaixonada por Yolanda e Carmen Maura é a freira que cuida de um tigre. Elas se autodenominam "Redentoras Humilhadas" e utilizam para si os nomes Irmã Sórdida, Irmã Perdida, Irmã Rata de Esgoto e Irmã Víbora.
Interessante a seriedade com que Almodóvar fala do filme na entrevista do livro "Conversas com Almodóvar". Principalmente ao falar do caráter cristão dos atos das freiras. Também fala com entusiasmo do fato de ter usado pela primeira vez o primeiro plano e de como esse tipo de plano é "uma espécie de radiografia da personagem". E complementa: "num primeiro plano se põe a nu a personagem e o ator, e também nos desnudamos."
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