quarta-feira, agosto 05, 2009

PROFISSÃO LADRÃO / RUAS DE VIOLÊNCIA (Thief)





















Impressionante a semelhança de estrutura e de temática entre THIEF (1981) e o novo INIMIGOS PÚBLICOS (2009). Os filmes contam praticamente a mesma história, mudando basicamente os personagens e a época. Michael Mann já se mostrava, no início dos anos 80, um autor com suas obsessões. De certa forma, ambos os filmes adotam uma característica que hoje parece crua. Porém, nota-se em THIEF um cuidado bem maior com os diálogos, muito mais elaborados e herdeiros do cinema americano dos anos 70, nascido sob o signo da contracultura. THIEF - quando se tem dois títulos brasileiros, é bem mais fácil optar pelo original - tem um jeitão B estiloso e é bem representativo de sua época, com direito a trilha sonora com aqueles sintetizadores tipicamente oitentistas. O mesmo pode-se dizer de INIMIGOS PÚBLICOS, que, apesar de ser um filme de época, apresenta as características do imediatismo das filmagens de baixa resolução dos dias atuais.

Primeiro longa-metragem de ficção para cinema de Mann, THIEF apresenta Frank (James Caan) como o anti-herói que segue um estilo de vida perigoso, mas que tem suas recompensas: ele está sempre usando roupas chiques e relógios caros e dirigindo carrões de luxo. E não é porque seu negócio de vendas de carros usados está indo de vento em popa, mas porque Frank é um habilidoso ladrão de bancos, cuja especialidade é assaltar cofres à noite, dando preferência às pedras preciosas. Assim como o Dillinger de INIMIGOS PÚBLICOS, Frank também tem sua estabilidade ameaçada pelo amor de uma mulher e o desejo de constituir uma família. E assim como Dillinger, Frank também confessa à mulher que ama o que ele faz da vida de imediato.

Podemos sentir uma ética toda particular desses personagens, que apesar de agirem contra as normas da sociedade carregam uma crença na verdade e nos valores familiares, o que enriquecem-nos com ambiguidades. Assim como Dillinger, Frank já sofreu demais na cadeia; já perdeu muito tempo de sua vida. E o que mais ele quer agora é paz ao lado de uma mulher e um filho. E nisso, THIEF vai ainda mais longe, ao mostrar o doloroso processo de tentativa de formação de uma família por Frank.

E esperar dos filmes de Mann um final feliz seria uma ingenuidade ou coisa de quem nunca viu um filme do diretor. Assim, já se espera que as coisas darão errado e que tudo terminará em tragédia. É só questão de tempo. E esse processo de queda do personagem de James Caan dá início a partir de sua relação com a família de mafiosos que oferece a ele um trabalho vantajoso, que pode lhe adiantar a sua tão sonhada aposentadoria. Mais do que em INIMIGOS PÚBLICOS, que apresentava um protagonista mais fechado e pouco dramático, em THIEF, Michael Mann dá vida a um personagem que se torna bem mais próximo da empatia do público. E isso não deixa de ser mais um ponto a favor para esse belo trabalho.

Agradecimentos ao Renato, que foi quem me indicou o link para o filme e quem me ajudou a encontrar essa foto que ilustra o post.

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