sexta-feira, julho 24, 2009

O SOL É PARA TODOS (To Kill a Mockingbird)























Foi preciso Robert Mulligan morrer para que eu finalmente me decidisse a ver este que é um dos filmes mais importantes do cinema americano da década de 60. O SOL É PARA TODOS (1962) foi o filme mais marcante da carreira de Gregory Peck, o filme que fez com que ele passasse a ser visto como um exemplo de hombridade, aliando generosidade com senso de honra. Com O SOL É PARA TODOS, a figura de Gregory Peck ficou associada a Atticus Finch, o advogado exemplar, protagonista do filme. E como o filme é visto pela perspectiva das crianças - principalmente a garota, Scout (Mary Badham) -, a figura amorosa do pai se torna ainda mais querida pela audiência. Há momentos de extrema beleza e poesia como na cena em que Atticus está abraçado à filha perto da janela e a câmera vai se distanciando dos dois, do lado de fora da casa. Aquilo ali é de deixar os olhos marejados. Assim como em outras cenas também, como a do julgamento do rapaz negro.

O SOL É PARA TODOS se passa no Alabama, durante os anos 30, e lida com diversas questões, mas a questão do preconceito racial é enfatizada. O filme também lida com o fantástico mundo de descobertas da infância, dentro da perspectiva das crianças, acentuando ainda mais a inocência que foi perdida nos anos posteriores. O sentimento de saudosismo já é sentido nas primeiras falas de Scout, quando ela descreve o lugar onde mora: como o dia, que tinha 24 horas, mas parecia ter mais; e também não havia muito o que fazer. A maneira como ela descreve aqueles tempos dá uma vontade na gente de estar ali, muito embora saibamos que o filme também mostra o lado sombrio da sociedade americana. Por trás da beleza, havia também muito a se lamentar, coisas absurdas, como, aliás, sempre foi uma característica da sociedade americana, desde a época colonial.

Gostei muito do filme, mas teria gostado ainda mais, se não fosse o final. Por mais que saiba que aquilo ali é um retrato de um mundo mais inocente e bem mais distante da paranoia que é viver nos dias de hoje, achei o final, a partir da aparição do personagem de Robert Duvall, absurdo, quase chegando a estragar todo o belo trabalho. Minha paranoia, inclusive, fez com que eu pensasse que aqueles bonecos que os meninos encontram na árvore eram algum tipo de vodu, o que deu ao filme, para mim, um ar ainda mais misterioso. O próprio universo infantil, aliás, é cheio de mistérios e fascínios. E o filme mostra isso muito bem já a partir dos créditos iniciais, com a bela música de Elmer Bernstein emoldurando.

O DVD duplo contém vários extras. No primeiro disco, além do comentário em áudio do diretor Robert Mulligan e do produtor Alan J. Pakula (sem legendas), há um longo documentário sobre os bastidores do filme (cerca de duas horas de duração, com legendas em inglês), que traça um painel de como era a sociedade americana nos anos 30. Achei o documentário em alguns momentos um pouco arrastado. Por outro lado, gostei bastante do outro doc, UMA CONVERSA COM GREGORY PECK, contido no disco 2. Aliás, todo o segundo disco é uma grande homenagem a Gregory Peck. Eu, que não era fã, passei a ser agora. Não apenas do ator, mas do homem também. O documentário mostra um encontro de Peck com fãs num teatro, respondendo a perguntas e recebendo algumas pessoas nos bastidores. Fiquei comovido com a devoção que aquelas pessoas têm pelo ator e pelo carinho com que ele as trata. Interessante como é muito mais fácil a gente sentir carinho por homens de mais de 80 anos. Talvez por lembrarem nossos avôs. E interessante que por mais que o documentário também mostre cenas de outros filmes, a importância de O SOL É PARA TODOS para Peck e para a maior parte daquelas pessoas é muito maior. E olha que Peck já trabalhou com vários gigantes do cinema. UMA CONVERSA COM GREGORY PECK, de uma hora e meia de duração, aproximadamente, também mostra cenas de Peck com a família.

Complementando a homenagem ao astro no disco 2, há o discurso dele ao receber o Oscar pelo filme em 1963; outro discurso ao receber um prêmio pelo conjunto da obra, dado pelo AFI; um trecho do tributo da academia ao ator, apresentado por sua filha; além de algumas palavras de Mary Badham sobre ele.

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