quarta-feira, abril 29, 2009

O ILHÉU (The Manxman)
























E finalmente chego ao fim da fase muda de Alfred Hitchcock. Seu último trabalho mudo, antes da chegada definitiva do cinema falado à Inglaterra foi O ILHÉU (1929), um drama bem sério e de clima opressivo, que fecha bem o primeiro ciclo da filmografia do homem que viria a se tornar o mestre do suspense. O ILHÉU não é considerado pelo próprio cineasta "um filme de Hitchcock", mas já antecipa alguns temas que seriam abordados com mais força em clássicos como SOB O SIGNO DE CAPRICÓRNIO (1949) e A TORTURA DO SILÊNCIO (1952), como pessoas sendo atormentadas por um segredo.

O ILHÉU mostra um triângulo amoroso onde dois amigos de infância disputam o amor de uma mulher. Um deles é um advogado (Malcolm Keen); o outro, pescador (Carl Brisson). A mulher é Kate, interpretada por Anny Ondra, de CHANTAGEM E CONFISSÃO (1929). Ambos são apaixonados pela jovem, mas só o pescador manifesta o seu amor e até arrisca levar um 'não' do pai dela, o comerciante, que não quer que sua filha se case com alguém com poucas condições financeiras. Philip, o advogado, guarda para si o amor. E como o filme mostra principalmente o seu ponto de vista, podemos sentir o ciúme e a dor de ver a sua amada sendo cortejada por outro. Pete decide viajar para voltar endinheirado e pede a Kate que espere por ele e a seu amigo Philip que cuide de Kate enquanto ele estiver fora. Philip e Kate passam, então, a estreitar suas relações e a notícia que chega de que Pete havia falecido os torna livres para iniciarem um relacionamento amoroso, longe da culpa de estar traindo alguém. Acontece que Pete não morreu. E retorna para reivindicar o casamento.

Depois do fraquíssimo CHAMPAGNE (1928), Hitchcock surpreende com um de seus melhores trabalhos da fase inglesa, onde o peso da culpa e o fato de se esconder a verdade torna o filme bem interessante. O aspecto religioso da verdade que liberta mas que também pode destruir é enfatizado e a sequência final até antecipa o final de OS PÁSSAROS (1963). E Carl Brisson, de O RINGUE (1927), pareceu estar se especializando em fazer papel de corno. Outra coisa que merece ser destacada é o fato de o filme antecipar o cinema falado, com cenas em que é até possível ler os lábios dos personagens. Inclusive, como François Truffaut muito bem comentou, na cena em que Kate diz que está esperando um bebê, Hitchcock optou até mesmo por não usar nenhum letreiro.

Para encerrar a fase muda e comemorar o início da fase falada num futuro post, segue meu top 5 dos filmes silenciosos de Hitchcock:

1. O INQUILINO SINISTRO / O PENSIONISTA
2. O ILHÉU
3. A MULHER DO FAZENDEIRO
4. O RINGUE
5. THE PLEASURE GARDEN

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