quinta-feira, abril 02, 2009

CRIMES OF THE FUTURE























Se eu tinha achado a trama de STEREO (1969) confusa, a de CRIMES OF THE FUTURE (1970), seu filme-irmão, é mais ainda. Mas ambos os filmes são fundamentais para que se possa ver a gênese do trabalho autoral de David Cronenberg, o embrião do que ele viria a ser. E justamente por ser um trabalho mais experimental e ousado, talvez até seja mais a cara do cineasta do que obras que precisam fazer concessões para que possa agradar a uma parcela maior da audiência. Se bem que seria até um pouco injusto falar de concessões quando se fala de Cronenberg, um dos cineastas com maior integridade artística da atualidade.

Assim como STEREO, CRIMES OF THE FUTURE também não apresenta som direto nem diálogos, mas além da voz do narrador, também podemos ouvir sons de pássaros, ondas, entre outros eventuais ruídos. A trama também se passa num futuro próximo, apocalíptico, onde todas as mulheres do mundo morreram devido a um cosmético venenoso, o chamado "mal de Rouge". A sobrevivência da humanidade está nas crianças fêmeas, que escaparam por não chegaram a usar os tais cosméticos. E apesar de a humanidade ter se tornado forçosamente homossexual (ou assexuada) pela falta de mulheres, aqueles que tinham tendências pedófilas se aproveitam da situação. Curioso o fato de que o líquido branco que sai das pessoas infectadas pelo mal de Rouge é especialmente apreciado como uma droga por vários homens. Fica difícil não associar o tal líquido branco com o esperma.

CRIMES OF THE FUTURE se passa numa clínica médica, assim como o seu antecessor. Mas não apresenta a mesma beleza plástica, nem movimentos de câmera ou enquadramentos tão arrojados. Além do mais, o filme tem uma trama bem complicada e um andamento que cansa já nos primeiros vinte minutos. Em seu favor, está a curta duração. Boa parte do elenco do anterior e a equipe técnica estão de volta para o novo experimento de Cronenberg. E como o cineasta tem uma estreita ligação com doenças, medicina e sexo, tudo embalado numa roupagem bizarra, experimento seria uma palavra apropriada para ele. Ainda assim, diria que o segundo trabalho de Cronenberg é mais recomendado apenas para aqueles que têm curiosidade em conhecer mais a fundo a obra do diretor.

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