quarta-feira, abril 15, 2009

CHAMPAGNE























Em meio à tortuosa peregrinação pela obra de Alfred Hitchcock, chegamos ao que é provavelmente o ponto mais baixo da carreira do cineasta: CHAMPAGNE (1928). Até a própria concepção original do filme pareceu idiota e é um filme que Hitchcock nem gosta de falar a respeito, a não ser para xingar, para dizer o quão baixo ele chegou. Não deixa de ser algo que incomoda, principalmente para quem o considera o maior cineasta de todos os tempos. Hitchcock conversa com François Truffaut e diz: "isso é provavelmente o que há de pior na minha produção". O cineasta francês comenta ser uma afirmação injusta e diz ter encontrado prazer em ver o filme. Por isso, eu ainda tinha esperanças de que podia gostar de CHAMPAGNE.

Há momentos até interessantes e inventivos no filme. Lembro da cena do navio balançando por conta de um mar bravio. A câmera de Hitchcock fica pra lá e pra cá, dando realmente a impressão de estarmos num navio instável. A cena inicial e final, que mostra o sujeito tomando uma taça de champanhe e onde vemos através de sua perspectiva, isto é, através do vidro do copo, é também interessante, mas me pareceu apenas uma maneira de enfeitar o trabalho, já que desde a ideia até o final, CHAMPAGNE foi um erro. Hitchcock conta a Peter Bogdanovich que a própria trama do filme foi desenvolvida durante a produção. Para um cineasta que tem o hábito de trabalhar com o acaso e sem ter a menor ideia do que fazer de um filme e seguir apenas o seu instinto, sua intuição, o projeto talvez até fosse vingar, mas para um cineasta que é famoso por já pensar todo o filme em sua cabeça antes de pegar na câmera, é compreensível entender porque não deu certo. Hitchcock dessa vez não tinha nem mesmo uma peça teatral a se apoiar, com no bom A MULHER DO FAZENDEIRO (1928).

Na trama de CHAMPAGNE, vemos uma moça rica que faz pouco da fortuna do pai. Logo no começo do filme, por exemplo, para se encontrar com o seu interesse amoroso que está presente num navio, ela chega a destruir um dos aviões do pai e a chegar ainda com marcas de fuligem no rosto, devido à queda do avião no mar. Suas festas também são bem excêntricas e o próprio rapaz reclama de suas maneiras, preferindo que ela seja uma moça mais simples. Seu pai, para lhe dar uma lição de moral, resolve inventar que perdeu tudo, que agora não tem mais nada. Ela fica triste, mas aceita viver em condições de pobreza para experimentar o amargo da vida também, chegando até mesmo a trabalhar numa espécie de bordel. É um filme bobo e que não traz nenhum estímulo para o espectador, já que nem mesmo a protagonista é atraente. Depois desse, estou mais do que preparado para a despedida de Hitchcock ao cinema mudo, com O ILHÉU (1929).

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