segunda-feira, março 09, 2009
WATCHMEN - O FILME (Watchmen)
Meu primeiro contato com Watchmen, a graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons, foi em 1990, através de um amigo meu da escola. Naquela época, estava um pouco por fora das novidades da chamada "nona arte". Havia parado de ler quadrinhos há algum tempo e estava alheio à revolução que estava acontecendo em meados dos anos 80. E essa revolução era encabeçada por Alan Moore, que ainda hoje é considerado o melhor escritor de quadrinhos vivo. E Watchmen é tida por muitos como sua obra-prima. Lembro que praticamente nessa mesma época já se especulava sobre uma adaptação para o cinema da obra de Moore, sendo que Terry Gilliam foi, se eu não me engano, o primeiro cineasta a ser cotado como provável diretor do filme. E muito tempo se passou e outras especulações surgiram. Até que a materialização finalmente aconteceu. Zack Snyder, que já havia feito a adaptação de 300 (2007), de Frank Miller, foi o escolhido para assumir o controle. E, ao contrário do que eu esperava, até que Snyder se saiu bem em sua empreitada. Principalmente se levarmos em consideração as dificuldades de se adaptar uma obra extensa, complexa e tão elogiada.
WATCHMEN – O FILME (2009) pode até ser tachado como um grande videoclipe ou uma cópia xerox da obra original, mas de uma coisa não se pode reclamar: de sua fidelidade e respeito à graphic novel. Snyder, aliás, já foi videoclipeiro: ele dirigiu "Tomorrow", do Morrissey, que eu nunca vi. E algumas cenas do filme atestam o seu background. Como os geniais créditos de abertura, ao som de "The Times They Are A-Changing", de Bob Dylan. Se a obra original dispõe de textos para complementar seu bem construído universo, Snyder faz o que pode para condensar aquilo tudo num filme de cerca de duas horas e quarenta minutos e a essência da série transparece nesses créditos iniciais. Há outras sequências musicais que se destacam, como a cena do funeral do Comediante, ao som de "The Sound of Silence", de Simon & Garfunkel; e a cena de sexo entre o Coruja e a Espectro, ao som de "Hallelujah", de Leonard Cohen. Basta lembra que Snyder já tinha entusiasmado a muitos nesse quesito ao botar pra tocar "The Man Comes Around", de Johnny Cash, em MADRUGADA DOS MORTOS (2004). Quer dizer, Snyder é, no mínimo, um cara de bom gosto.
Outro destaque do filme é a escolha dos atores e a perfeição na caracterização dos personagens. Diria que entre os personagens principais, o único que deixou um pouco a desejar foi Matthew Goode, no papel de Ozymandias, o homem que carrega o título de "o mais inteligente do mundo". O maior problema é que o ator não convence nesse quesito. Mas os demais - Comediante (Jeffrey Dean Morgan), Rorschach (Jackie Earle Haley), Coruja (Patrick Wilson), Dr. Manhattan (Billy Crudup), a primeira Espectral (Carla Gugino) e a segunda (Malin Akerman), ambas, aliás, estão lindas e sensuais no filme – são exemplos de uma escolha de elenco e um perfeccionismo na caracterização que devem ser louvados. Outro ponto positivo é a coragem de fazer uma obra adulta, sem abrir mão de sexo, nudez e violência gráfica.
A trama começa com o assassinato de Eddie Blake, o Comediante, e a posterior investigação do caso pelo paranóico Rorschach. Ambos são personagens com características de sociopatas. E esse é um dos aspectos mais interessantes da obra de Moore. Seus vigilantes não são perfeitos e éticos como os heróis convencionais. Eles são complexos e cheios de tons de cinza, como os seres humanos. A trama de WATCHMEN se passa nos Estados Unidos em 1985, com Richard Nixon no poder em seu terceiro mandato como Presidente. Há uma preocupação enorme com uma iminente terceira guerra mundial desencadeada pela disputa Estados Unidos-União Soviética, típica da Guerra Fria. Dos heróis, o único que possui super-poderes é o Dr. Manhattan, um cientista que devido a um acidente nuclear se transforma num sujeito azul que pode fazer o que quiser com a matéria, sendo tido como um deus por muitos, devido a seus extraordinários poderes.
Tive sorte de ter relido Watchmen já faz algum tempo. Assim, não aconteceu o que havia acontecido antes com SIN CITY, de Robert Rodriguez e Frank Miller, quando eu sabia de tudo o que ia acontecer. Aliás, mesmo que quisesse narrar tudo o que consta na obra original, Snyder teria que providenciar uma mini-série e não um único longa-metragem. Mas uma mini-série televisiva, por outro lado, dificilmente poderia bancar esse tipo de produção, por mais que os efeitos visuais sejam puro CGI. Claro que o filme não é perfeito. Tamanho respeito à obra de Moore não permitiu a Snyder alçar voos maiores e mais ousados e fazer algumas modificações no enredo ou injetar mais "alma" em sua obra. Mas como mexer muito seria como mexer num vespeiro, então talvez tenha sido mais sábio de sua parte prestar suas homenagens aos quadrinhos, por mais que Alan Moore tenha pedido para retirar seu nome dos créditos e não queira sequer ver o filme.
P.S.: Só depois fiquei sabendo que os créditos de abertura não foram dirigidos por Snyder. Menos um ponto pra ele, então.
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