quinta-feira, março 19, 2009

O RINGUE (The Ring)























E continua minha peregrinação pela fase muda e - pelo menos pra mim - pouco interessante de Alfred Hitchcock. Ao menos O RINGUE (1927) é um bom filme, embora tenha me decepcionado um pouco. Esperava mais, já que é considerado por muitos como o melhor da fase muda de Hitch. Talvez o que mais tenha me incomodado no filme tenha sido o quanto o personagem central é ingênuo. O que é até coerente com os filmes anteriores do diretor vistos recentemente - THE PLEASURE GARDEN (1925), DOWNHILL (1927) e EASY VIRTUE (1928). Mas se nos anteriores os personagens encontram no final uma espécie de vitória, de recompensa por serem virtuosos, o final feliz de O RINGUE dessa vez carrega um gosto amargo, principalmente para quem se sentir um pouco na pele do protagonista, o lutador de boxe Jack Sander, corneado pela mulher. Sander é conhecido como "One Round" Jack, já que ele, no início da carreira, nocauteia sempre os adversários no primeiro round.

Logo no início do filme, o triângulo amoroso se estabelece e percebemos o caráter pouco confiável da mulher, que trai o namorado boxeador com o cara que consegue nocauteá-lo. Mas apesar de ser uma personagem que possa despertar a ira dos mais moralistas - e em certo ponto, apesar de geralmente não me enquadrar nesse grupo, eu me senti como um -, ainda assim, a personagem de Lillian Hall-Davies é de longe a mais interessante do filme, exatamente por sua característica pouco confiável e imprevisível e por ser uma mulher dividida pelo amor de dois homens.

O filme apresenta poucos aspectos comumente encontrados nas obras de Hitchcock. Parece mesmo um trabalho de encomenda. Mas é o seu filme da fase muda mais bem resolvido no aspecto narrativo. Por outro lado, não possui muitas inovações ou cenas experimentais como o irregular DOWNHILL. O RINGUE também se beneficia de uma trama que pode ser contada basicamente com imagens, enquanto que o anterior - EASY VIRTUE - parecia carecer urgentemente do som. Ainda assim, há algumas simbologias utilizadas discretamente no filme, como o bracelete representando uma serpente. E o título original ainda carrega um sentido dúbio, já que pode ser tanto o ringue de boxe, como o anel ou a aliança de casamento, que são duas coisas intimamente conectadas à trama.

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