terça-feira, março 03, 2009

CORALINE E O MUNDO SECRETO (Coraline)





















Não há como negar a importância de Neil Gaiman para os quadrinhos dos anos 90. Sua obra-prima, "Sandman" (1988-1996), é até hoje vendida com sucesso, tendo sido publicada no Brasil por várias editoras. E é genial. Eu, que fui conhecer a série em 1994, só no ano passado que fui completar a leitura de todas as 76 edições, distribuidas em dez livros, num belo e luxuoso trabalho de encadernação da Conrad. Tinha dificuldade de encontrar os últimos arcos em sebos. Ainda falta eu conferir o mais recente trabalho de Gaiman com os Perpétuos, "Sandman - Noites sem Fim" (2003), coletânea de sete histórias ilustradas por sete renomados artistas e protagonizadas pelos sete perpétuos. Como ainda não li, não sei, portanto, se "Noites sem Fim" tem o mesmo vigor e o mesmo encanto do trabalho original de Gaiman, já que, depois de Sandman, o autor não se mostrou mais tão criativo e inspirado. Sua estadia na Marvel, rendeu uma mini-série fraca ("1602", 2004) e uma boa ("Eternos", 2006). Seu trabalho em prosa, fora dos quadrinhos, ainda que tenha tido sucesso de público, não foi tão bem sucedido, a julgar pelo chato romance "Deuses Americanos" (2002).

No cinema, ainda falta a Gaiman sorte para contruir projetos bem sucedidos. Seu trabalho com o amigo Dave McKean (MÁSCARA DA ILUSÃO, 2005) é modorrento e pretensioso; STARDUST - O MISTÉRIO DA ESTRELA (2005), não cheguei a ver, mas senti que foi recebido com certa frieza pela crítica e pelo público, apesar do elenco estelar. CORALINE E O MUNDO SECRETO (2009), a animação dirigida por Henry Selick baseada na premiada novela escrita por Gaiman em 2003, é o seu mais bem sucedido trabalho a chegar às telas. Não cheguei a ler o livro, mas a julgar pela trama do filme, trata-se de uma bela e assustadora história infantil. Que é transposta com carinho para as telas pelo diretor do cultuado O ESTRANHO MUNDO DE JACK (1993). Não chegou a me empolgar de fato, mas é uma bela e interessante obra. O trabalho de animação em stop-motion é exemplar e dá ao filme um aspecto de delírio e sonho poucas vezes visto no cinema de animação. Que, inclusive, é tão boa que eu até achei que se tratava de um trabalho de computação gráfica.

Na trama, Coraline é uma garota esperta e inteligente que se muda com os pais para uma região desolada e fria. Como os pais não têm muito tempo para se dedicar a ela, Coraline fica um pouco impaciente. Em sua busca pelo que fazer dentro da casa, ela acha uma pequena portinha que, para sua decepção, está fechada com tijolos. Coraline aos poucos vai conhecendo a estranha vizinhança. E é do menino Wybie que ela ganha uma boneca que se parece muito com ela. Depois que ela ganha a boneca, acorda de noite e segue um camundongo, que entra justamente na tal entradinha secreta descoberta por ela. A entrada vai dar numa casa quase idêntica à sua, com versões aparentemente mais simpáticas e bondosas de seu pai e de sua mãe. A diferença é que ambos tem botões no lugar dos olhos. Aos poucos ela vai percebendo que a bondade dos dois é só um atrativo para conquistá-la. A coisa fica assustadora quando os seus outros pais pedem para que ela substitua seus olhos por botões para ficar igual a eles.

Imagina-se que uma trama dessas deveria assustar as crianças. Mas acho que as crianças de hoje não se impressionam tão facilmente quanto as de ontem. Eu, quando criança, tinha medo do Minotauro do Sítio do Pica-Pau Amarelo, fiquei aterrorizado com o Pinóquio se transformando em burro e impressionado com a maldade de Peter Pan com o pobre do Capitão Gancho. Não sei quanto à nova geração. E também não sei o quanto CORALINE E O MUNDO SECRETO tem de poder para encantar as crianças de hoje. A mim, me pareceu um filme com um ritmo muito particular e nem sempre fácil de agradar ao grande público. Fiquei com sono em algumas partes, principalmente nas cenas em que Coraline se encontra com o artista de circo. Foi o momento para eu tirar um cochilo. E eu costumo desconfiar dos filmes que me dão sono, embora nesse caso a culpa possa ser de um fator alheio ao filme.

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