quarta-feira, fevereiro 04, 2009
KAGEMUSHA – A SOMBRA DO SAMURAI (Kagemusha)
Akira Kurosawa continua sendo, entre os grandes e respeitados cineastas mundiais, uma pedra no meu sapato. Dos filmes que vi do cineasta, quase nenhum eu gostei de verdade, embora perceba racionalmente virtudes nos filmes. Os de samurai – como YOJIMBO, O GUARDA-COSTAS (1961) e SANJURO (1962) - foram experiências soporíferas para mim. Fico até me perguntando se o problema é com o gênero, já que tive de ver "em fascículos" este KAGEMUSHA – A SOMBRA DO SAMURAI (1980). A longa duração também não ajuda. O filme teve um efeito parecido com suco de maracujá pra mim. Quer dizer, ainda estou para ver um filme de Kurosawa que me satisfaça, que me deixe com os olhos abertos e grudados na tela até o fim – um dia pego um com trama contemporânea para experimentar.
Meu encontro com KAGEMUSHA veio graças à coleção Cinemateca Veja, que vem trazendo toda semana um filme diferente dentro de um libreto informativo. Resolvi comprar KAGEMUSHA, incentivado pelo libreto que vem junto com o DVD, contendo diversas informações sobre o filme, o diretor, o elenco, a reconstituição de época, um guia que nos auxilia a entender o contexto histórico (ainda que eu tenha achado um pouco confusa essa parte, talvez por causa dos vários nomes dos líderes dos clãs), o cinema japonês e, finalmente, um pequeno texto sobre a tradição dos filmes de samurai, que estão para o cinema japonês, como o western está para o cinema americano e os filmes sobre o cangaço estão para o cinema brasileiro. E como eu não sou exatamente um expert em cinema japonês e muito menos em História japonesa, achei que o livrinho seria de grande ajuda. Recentemente, KAGEMUSHA ganhou uma edição em DVD duplo de luxo do selo Cinema Reserve, com direito a vários extras no segundo disco. Assim, quem deseja adquirir o filme, agora tem duas boas opções.
Nas cerca de três semanas que eu levei para terminar de ver KAGEMUSHA, posso dizer que a última etapa foi a melhor. Não pelo fato de o filme já estar no fim, mas porque KAGEMUSHA ganha um novo gás quando trata dos momentos finais do clã de Shingen Takeda, o grande derrotado dos três clãs que dominavam a região do Japão na época em que se passa o filme (1573 a 1575). Foi um período importante para a História do país, pois foi nessa época, com a batalha entre os clãs, que o Japão se unificou. É mais ou menos o equivalente a HERÓI, de Zhang Yimou, que trata da unificação da China.
O que diferencia KAGEMUSHA do hiper-colorido e estilizado trabalho de Yimou está numa narrativa mais rica, ainda que mais convencional, que destaca o fato de o clã de Shingen usar costumeiramente um sósia para proteger o seu líder. Esse sósia se torna de fundamental importância com a morte de Shingen. O sósia é um ladrão, apanhado por um dos súditos do rei. Boa parte do filme lida com a adaptação do sósia (o kagemusha do título) aos costumes da nobreza, bem como com sua tentativa de enganar a grande maioria dos súditos, inclusive o seu pequeno neto, que inicialmente desconfia que aquele homem não é seu avô, mas depois começa a se afeiçoar a ele. Há também as várias sequências de luta, com um uso de cores incomum, tanto para o próprio Kurosawa quanto para o espectador. Aliás, o filme representa um novo rumo para a carreira do diretor, mais acostumado a trabalhar com a fotografia em preto e branco. Foi também um momento difícil para o cineasta, já que o cinema japonês não estava muito bem das pernas no mercado internacional e mesmo nacional. E, sendo admiradores do trabalho de Kurosawa, George Lucas e Francis Ford Coppola convenceram a Fox a comprar os direitos de distribuição do filme para o mercado internacional, levantando as possibilidades de sucesso do filme e ajudando o cineasta a se reerguer, depois de um jejum de cinco anos desde DERSU UZALA (1975), que aliás, é o único filme de Kurosawa que me causou maior interesse, mesmo não tendo visto completo, quando passou na televisão.
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