terça-feira, novembro 04, 2008
A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES
Depois do luxo que foi a produção de EXORCISMO NEGRO (1974), José Mojica Marins volta à bagaceira com essa produção picareta intitulada A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES (1976), filme que não foi dirigido por ele, já que um de seus discípulos, Marcello Motta, ficava perturbando Mojica pela direção. E como Mojica andava exausto de tanto trabalhar e ainda resolvendo sua complicada situação com Nilce, fez a besteira de dar a direção à Motta e apenas produzir esse filme feito com parcos recursos e com um preto e branco em tons sépia. A cópia que eu consegui da internet é ripada de um VHS surrado lançado pela Something Weird, selo que lançou os trabalhos de Coffin Joe nos Estados Unidos em fita, sem necessariamente se importar muito com a qualidade das cópias. Se a cópia original já não era grande coisa, ver essa cópia em divx fez com que as imagens sujas fizessem eu me lembrar dos tempos em que alugava aquelas fitas mofadas de locadoras empoeiradas, do tipo que sujavam os cabeçotes e eu precisava abrir o videocassete pra limpá-lo. Mas se ao menos o problema de ver o filme estivesse apenas na péssima qualidade da cópia eu não me importaria. Não. A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES é talvez o filme que mais suja a reputação e a filmografia de Mojica, que já não andava muito bem na década de 70, embora EXORCISMO NEGRO tenha feito relativo sucesso comercial.
Também pudera, foi um trabalho feito com uma equipe quase que totalmente amadora. Os únicos profissionais na produção eram Mojica, Nilce e o diretor de fotografia. O restante - do diretor ao contra-regra - não tinha experiência nenhuma em cinema. O elenco também era todo amador e Mojica usou o velho esquema das cotas, talvez com a esperança de voltar aos bons tempos dos primeiros filmes do Zé do Caixão. Ou talvez por não ter outra saída mesmo. Talvez a melhor coisa do filme seja mesmo a performance de Mojica, como o recepcionista que, ao ser perguntado qual o seu nome, responde que é melhor não despertar a besta que existe dentro dele. A estória creditada a Rubens Lucchetti até renderia um bom curta de meia hora de duração ou até um bom filme de maior duração se bem conduzido, mas a direção é tão ruim e a produção tão pobre que em instante algum dá pra se acreditar que existe de fato uma tempestade lá fora, que faz com que várias pessoas se abriguem na tal hospedaria do título. Não tiveram o cuidado nem mesmo de filmar uma chuvinha que fosse no exterior, preferindo usar aqueles "efeitos especiais" de animação mostrando um raio e o som de trovoadas.
Alguns diálogos foram retirados de filmes anteriores de Mojica, como FINIS HOMINIS (1971), como na cena em que é mostrado o grupo de hippies cantando "tá todo mundo nu, oba!". Para transformar o filme num longa-metragem, várias cenas são esticadas e repetidas, causando logo um cansaço e uma tristeza de ver a decadência de um gênio. O fundo do poço. Por mais que Mojica possa dizer que não foi ele quem dirigiu o filme, sabe-se que ele teve que consertar muita cagada feita por Motta e acabou editando esse que talvez seja a pior coisa que ele já realizou em sua carreira. E pensar que ele tinha medo de sujar o nome com as pornochanchadas que dirigiu na época...
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