quinta-feira, outubro 23, 2008

ESPELHOS DO MEDO (Mirrors)



Os espelhos têm algo de misterioso, enigmático e já foram utilizados bastante durante a história do cinema, em especial em filmes de terror. Há, inclusive, um velho clichê do gênero que costuma mostrar um personagem olhando para o espelho de um banheiro e logo em seguida aparece a figura de um serial killer, um fantasma ou um monstro. Mesmo cineastas que não estão diretamente ligados ao gênero têm uma fixação por espelhos, como é o caso, por exemplo, de Brian De Palma e Tinto Brass, que os incorporaram em suas obras de maneira bastante enfática. Não sei se já falei aqui, mas o único filme brasileiro que me meteu medo foi ESPELHO DE CARNE, de Antonio Carlos da Fontoura (em especial em sua seqüência final), que mostrava um espelho que mudava o comportamento de quem dele se aproximava. No cinema de horror, lembro de ter ficado impressionado com os espelhos cobertos com panos, mostrados em PRELÚDIO PARA MATAR, de Dario Argento. Muito sinistro. O fato é que os espelhos até hoje são utilizados para rituais de magia e afins por quem é interessado ou chamado para esse caminho. Não se trata apenas de conto de fadas apresentados em filmes como BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES.

O pouco apreciado e muito malhado ESPELHOS DO MEDO (2008), segundo trabalho do francês Alexandre Aja em Hollywood, saiu melhor do que a encomenda pra mim, que esperava, ao ver o trailer, mais um filme de horror bem genérico e excessivamente influenciado pelo horror oriental, como OS MENSAGEIROS, dos irmãos Pang. Inclusive, Aja nem podia fugir muito disso, já que ESPELHOS DO MEDO é refilmagem do coreano ESPELHOS (2003), de Sung-ho Kim, lançado em DVD no Brasil pela Europa. Como não vi o original, não tenho como estabelecer critérios de comparação, mas diria que Aja foi bastante feliz em seu trabalho, oferecendo momentos de real terror, como as cenas escuras que se passam dentro do prédio incendiado - cujos espelhos permaneceram intactos apesar do incêndio – e, principalmente, na cena da banheira, que pra mim é o ponto alto do filme no quesito horror.

Na trama, Kiefer Sutherland – esforçando-se para sair um pouco do estigma de Jack Bauer – é um ex-policial que sofreu um trauma depois que matou um homem que o levou ao alcoolismo e, conseqüentemente, à perda de sua família. Necessitando de um emprego, ele aceita o trabalho de vigia noturno de um prédio incendiado, que era no passado um hospital psiquiátrico. Seu relacionamento com a ex-esposa não anda muito bem e ela fica irritada quando o vê em sua casa para ver as crianças sem ter avisado antes. As coisas pioram bem mais quando os espelhos do tal prédio em chamas passam a perturbar a já não muito saudável mente do ex-detetive. O filme tem um final memorável e uma atmosfera de terror que não deixa ninguém dormir. Eu, sinceramente, não entendi a saraivada de críticas negativas que o filme ganhou. Fica parecendo às vezes que os críticos combinam entre si qual filme deve ou não ser respeitado ou execrado. Mas esse é um outro assunto, de natureza muito polêmica de que não quero me estender. Quanto a Alexandre Aja, ele continua sendo um diretor que respeito, só acho que ele deveria não ficar "se especializando" em refilmagens, enquanto estiver trabalhando em Hollywood. Depois de VIAGEM MALDITA (2006) e desse ESPELHOS DO MEDO, ele vem aí com uma versão em 3-D de PIRANHA, o clássico B de Joe Dante.

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