quinta-feira, setembro 18, 2008

SOLDADO DE LARANJA (Soldaat van Orange)



Praticamente trinta anos antes de parir a obra-prima A ESPIÃ (2006), o holandês maluco Paul Verhoeven exercitou o tema no épico de guerra SOLDADO DE LARANJA (1977), filme que também trata da ocupação alemã na Holanda durante a Segunda Guerra Mundial. A julgar pela relativamente longa duração do filme e até pela utilização de um intervalo musicado entre a primeira e a segunda partes, nota-se que o filme foi uma produção bem ambiciosa, talvez mais até do que A ESPIÃ. Decepcionei-me um pouco, embora tenha gostado do filme. Talvez pelo fato de ser o trabalho mais comportado de Verhoeven que eu já vi. Muito pouco sexo, transgressão e violência, coisa bastante comum de se encontrar nos trabalhos do cineasta. Talvez o filme tenha sido feito com concessões, para agradar a uma audiência maior. No ano anterior, Verhoeven havia produzido uma produção para a televisão holandesa com o mesmo título, mas não sei dizer o quanto a mini-série tem a ver com o filme.

Na trama, vemos um grupo de amigos que têm as suas vidas totalmente modificadas com a tomada dos alemães a seu país. Alguns, para escapar à morte, preferem se aliar aos nazistas; outros, entram em grupos de resistência, mesmo aqueles incapacitados para o exército, como o personagem de Rutger Hauer, que foi dispensado por ser míope. Outro rosto familiar dos filmes de Verhoeven e segundo personagem importante da estória é Jeroen Krabbé, que apareceria nos filmes seguintes do cineasta – SEM CONTROLE (1980) e O 4º HOMEM (1983). Rutger Hauer também apareceria em SEM CONTROLE, numa pequena ponta e, já com uma carreira bem estabelecida nos Estados Unidos, protagonizou a retumbante estréia hollywoodiana de Verhoeven: CONQUISTA SANGRENTA (1985), que honra o adjetivo do título e é um dos melhores e mais fortes trabalhos do diretor.

Assim como A ESPIÃ, SOLDADO DE LARANJA é um filme sobre espiões, sobre pessoas que tentam sobreviver num mundo onde não se pode confiar no outro. Não custa lembrar que o softcore SHOWGIRLS (1995) também lidava com a desconfiança, com conspirações, apesar de ser um trabalho totalmente distinto no tema. SOLDADO DE LARANJA é claramente dividido em duas partes. Assim como E O VENTO LEVOU, para citar um exemplo de um filme grandioso com um intervalo, há uma diferença de tom e do rumo dos acontecimentos do filme entre a primeira e a segunda parte. E talvez a comparação com a superprodução americana não seja gratuita. Talvez SOLDADO DE LARANJA seja mesmo o E O VENTO LEVOU dos holandeses, já que não houve guerra que tenha afetado tanto a sociedade holandesa quanto a Grande Guerra. Apesar de eles terem tido depois apoio dos ingleses, americanos e dos russos, a ocupação alemã foi muito traumática para o país. Dizem que até hoje os holandeses mantêm uma relação de inimizade com o povo alemão, embora eu não tenha como comprovar isso. Mas a necessidade de um filme como A ESPIÃ ser feito em pleno século XXI pode ser uma indicação de que ainda existe rancor entre os dois povos.

Dando uma olhada no IMDB, fiquei feliz ao ver que o nome de Verhoeven não consta mais como diretor da continuação de THOMAS CROWN – A ARTE DO CRIME, embora isso não queira dizer que o filme não seja realizado e que Verhoeven não venha a fazê-lo e que até supere com facilidade o original. O que consta no IMDB como trabalho seguinte do homem é o thriller AZAZEL, previsto para o próximo ano e com a bela Milla Jovovich encabeçando o elenco.

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