sábado, agosto 02, 2008
O SIGNO DA CIDADE
Como é bom sair do cinema satisfeito com um filme, por mais que esse filme não seja exatamente um exemplar de excelência em cinema. O importante é que eu me senti conectado com aquele universo de personagens tristes de O SIGNO DA CIDADE (2008) e senti que o trabalho foi feito com carinho a quatro mãos por Bruna Lombardi (que escreveu o roteiro e é a protagonista) e o diretor (seu marido e agora também cineasta Carlos Alberto Riccelli). Embora Riccelli tenha reservado alguns poucos momentos muito bons em que se percebe um trabalho de direção mais apurado - como na cena em que Bruna está num banco de parque ao lado de Malvino Salvador e a câmera passeia por trás dos dois, oferecendo ao espectador uma visão ao mesmo tempo esplendorosa e triste da cinzenta São Paulo -, em geral, a direção do filme é bem discreta. E como eu me identifico com a melancolia de São Paulo e tenho atração por astrologia e toda essa discussão sobre destino e livre arbítrio, o filme acabou me conquistando durante toda a sua metragem. Até achei que Bruna e Riccelli não iam encontrar um final bom, com tantos personagens e enredos - já que se trata de um "filme-painel" -, mas o final encontrado foi mais do que acertado.
Claro que O SIGNO DA CIDADE não é perfeito, mas não estou aqui pra falar dos problemas do filme. Isso deve ser bem fácil de encontrar em várias críticas frias ou negativas ao fime, que estreou em São Paulo em janeiro e só agora chegou aqui. Mas fiquei feliz por pelo menos ter chegado e eu ter conseguido assistir na telona. Na trama, Bruna Lombardi é uma astróloga que também tem um programa de rádio em que recebe ligações de pessoas aflitas ou confusas com o destino que elas devem tomar ou mesmo para saber se elas têm algum motivo para continuar a viver, se há chances de a vida melhorar. Quando ela fica traumatizada e com sentimento de culpa por não ter ajudado um rapaz que freqüentava quase que diariamente seu consultório, onde ela também lia as cartas, depois disso, ela sente o peso da responsabilidade que carrega. Do quanto se torna responsável pelas decisões de cada pessoa a quem ela atende. E acredito que astrólogo é como médico ou professor: às vezes, ele precisa improvisar, adivinhar, fazer de conta que sabe, quando na verdade há com freqüência uma insegurança e às vezes até falta de conhecimento mesmo sobre o assunto. Principalmente quando se trata de algo tão complexo quanto vidas humanas associadas a simbolismos, planetas, constelações.
A pergunta que muita gente faz é: o nosso destino está traçado ou nós é que fazemos o nosso próprio caminho? Acho que se a pergunta fosse feita para mim, eu ficaria no meio termo, já que o livre arbítrio não me parece tão livre assim. Não fazemos o que temos vontade sempre que queremos. Claro que existe aquele provérbio: when there's a will, there's a way, mas pra isso é preciso estar plenamente focado naquilo que você deseja. E isso é tão difícil quando temos que pensar em contas pra pagar, botar comida em casa, cumprir horário no trabalho, dar assistência sempre que possível a um familiar ou a um amigo. Quer dizer, no fim das contas é mais a vida que nos leva do que nós que a levamos. Admiro aqueles que confiam em si mesmos, só acreditam no visívil e comprovável cientificamente e acham que são donos de seu próprio destino, mas não é assim que eu vejo as coisas. Por isso que eu vejo a astrologia como uma espécie de relógio de Deus. Um relógio que nem sempre pode ser generalizado, mas que quando é bem interpretado, a partir de um mapa natal específico, pode atingir em cheio. Não lembro onde foi que eu li sobre um antigo astrólogo que sabia até o dia da sua morte, através da astrologia. Mas isso é algo que definitivamente eu não quero saber.
Quanto ao filme (sobrou pouco espaço pra falar do filme agora), pelo fato de conter vários personagens - como CRASH ou SHORT CUTS -, acaba não dando a eles a profundidade mínima necessária. Mas Bruna e Riccelli fazem o que podem e se não se saem melhor que Altman (seria querer demais), acredito que fizeram um trabalho bem mais digno que o de Paul Haggis. Ao tratar de destino, é interessante ver alguns personagens que aparentemente nada tem a ver com a vida do outro de repente entrando na vida daquela pessoa. Numa das cenas que melhor trabalham o humor - que existe no filme, para que ele não fique tão pesado - há uma cena em que um ladrão vai assaltar um homem e uma mulher que estão juntos por acaso, eles não se conhecem. A mulher acaba levando o ladrão na conversa, numa cena bem simpática. Aliás, a mulher, interpretada por Graziella Moretto, é a personagem mais alto astral de um filme que dá preferência aos aflitos pelas doenças da alma. Por ironia do destino ou capricho dos deuses, uma tragédia envolvendo a morte de um rapaz que sofre com depressão e se suicida acaba levando a felicidade a um casal. O filme também lida com pesos do passado, como a revelação final da personagem de Eva Wilma, e com últimos desejos de um homem à beira da morte (Juca de Oliveira). Enfim, belo filme. Fluído, equilibra com elegância o humor e o drama da vida e ainda mostra São Paulo como mais uma personagem do filme.
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