quinta-feira, agosto 14, 2008

O MILHO ESTÁ VERDE (The Corn Is Green)



É triste ver a decadência de um autor. George Cukor, que já havia demonstrado sinais de que deveria ter se aposentado no oscarizado MY FAIR LADY (1964), mesmo com toda a pompa e luxo, no modesto telefilme O MILHO ESTÁ VERDE (1979) até mesmo a sua antiga parceira Katharine Hepburn surge apagada, apesar de se notar o esforço da atriz, que procurava sempre transparecer vitalidade, apesar da doença e da velhice. E de certo modo essa fragilidade da atriz chega a contribuir positivamente para o filme. A cena de sua mão tremendo enquanto está colocando chá na xícara é um exemplo disso. Interessante notar como há um forte elo de ligação entre as temáticas de ambos os filmes. Apesar da distância de mais de dez anos entre as duas produções, Cukor parece ter feito em O MILHO ESTÁ VERDE quase uma refilmagem de MY FAIR LADY, tratando da educação como um caminho para a evolução física, moral, intelectual e espiritual do homem.

Desse modo, os personagens de Rex Harrison em MY FAIR LADY e Katharine Hepburn em O MILHO ESTÁ VERDE surgem como professores rígidos e transformadores do destino de indivíduos marginalizados ou que não tiveram a chance de ter uma boa educação para poderem crescer. No filme, Katharine Hepburn é uma senhora solteirona que chega a uma cidadezinha do interior do País de Gales e que logo toma de conta de uma casa que lhe foi herdada. Ela fica entusiasmada com as belezas naturais do lugar e como nota que o povo daquela região é, em geral, iletrado, pretende construir uma escola e lecionar tanto para crianças quanto para os trabalhadores das minas, que a princípio fazem pouco dos modos e das intenções da professora. Apenas um deles, numa atividade de produção textual, chama a atenção dela, um rapaz que ela vê com potencial para aprender muito e chegar até mesmo a uma boa universidade.

Trata-se de uma estorinha banal e que até pode ter algum valor moral, mas tem pouco valor como cinema. O fato de ser um telefilme transparece até mesmo nos fade-outs, que são as deixas para a entrada dos comerciais. O filme também tem problemas com a noção de tempo, que parece meio estranha. Principalmente no final, quando o rapaz volta da viagem de Oxford e diz que o resultado de sua classificação só sairia em dois dias e no meio da cena chega o telegrama com o resultado. Não se sabe quanto tempo durou a viagem e a moça que engravida dele logo aparece com a criança num cesto, como se uma gravidez só durasse um mês. Posso ter perdido algum detalhe, o que não é nenhuma surpresa, pois o filme é tão chato que vez ou outra eu me via distraído, pensando em outra coisa. Quando eu percebia isso, desligava a tv e deixava para continuar o filme no dia seguinte. Pelo menos a duração é de apenas uma hora e meia. Agora, só falta mais um filme para eu terminar a peregrinação pela obra de Cukor, justamente o seu filme-testamento. Espero não me desapontar novamente.

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