domingo, julho 13, 2008

ANGEL (The Real Life of Angel Deverell)




Fazendo um link com NOME PRÓPRIO, de Murilo Salles, e a necessidade e o desejo de escrever, falemos um pouco do mais recente trabalho do sempre interessante François Ozon. ANGEL (2007) pode ser descrito, em tom, e por causa da personagem título, interpretada pela bela Romola Garai, mais conhecida pelo papel de Briony aos 18 anos de idade em DESEJO E REPARAÇÃO, de Joe Wright, como uma espécie de homenagem a E O VENTO LEVOU. O tom do filme, inclusive a fotografia e a música, parece querer ser deliberadamente retrô, inclusive com a utilização de retroprojeção nas cenas externas, como se fosse mesmo um filme dos anos 30-40. A comparação com E O VENTO LEVOU acaba sendo inevitável, principalmente na maneira esnobe com que a personagem se mostra no início do filme, o que lembra muito a Scarlett O'Hara antes dos horrores da Guerra Civil, cheia de mimos. Acontece que a estranheza do filme se dá justamente porque esse tom de conto de fadas, onde tudo parece ser um sonho, demora muito para se desfazer e a impressão que temos é que há no filme um certo tipo de humor bizarro. Como se metade do filme fosse um delírio da mente da protagonista, como se nada fosse de verdade. Lembrei, inclusive, do último ato de FALSA LOURA, de Carlos Reichenbach. O filme desmancha um pouco essa impressão e retoma o seu desejo de ser o E O VENTO LEVOU dos tempos modernos quando muda de tom, a partir do surgimento, justamente, de uma guerra, no caso, a 1ª Guerra Mundial, que acaba com a felicidade e os planos de uma mulher que sempre teve o que desejou.

Em ANGEL, a jovem Angel Deverell é filha de uma família humilde que possui uma mercearia numa pequena cidade da Inglaterra. Sempre que a professora pede que ela faça uma redação, ela entrega algo parecido com Charles Dickens, toda estilosa. A professora não acredita que a redação foi escrita por ela, até porque ela inventa que mora numa mansão ou num castelo, enquanto que todo mundo sabe que ela é filha do dono da mercearia. A própria mãe, humilde, também não acredita no potencial criativo da filha, mas a menina adora escrever. E daquele jeito mesmo, cheio de floreios. E assim, ela escreve o seu primeiro romance, que é enviado a uma editora em Londres. O editor (Sam Neill) a princípio pede que ela faça algumas modificações, mas ela se recusa. Ela conta detalhes, por exemplo, do aspecto sangrento de um parto, mesmo sem nunca ter assistido a nenhum. Aliás, o curioso é que Angel afirma não ler nenhum autor, ela apenas escreve. Não sei se isso é possível, ser assim tão isento de influências estéticas, mas talvez seja. O livro é um sucesso e Angel Deverell se torna uma romancista famosa, mas que tem vergonha de suas raízes pobres. A cada romance, sua fama aumenta e ela passa a freqüentar festas e espetáculos de aristocratas e se muda para uma tão sonhada mansão nos arredores da cidade onde nasceu. O que falta na vida dela, ela rapidamente consegue: um romance com um pintor rebelde, que nem aprecia o trabalho dela e talvez seja por isso mesmo que ela se apaixona por ele. Ela sustenta o rapaz com o que ganha das vendas de seus romances, é idolatrada e cuidada pela irmã dele, fã de seu trabalho, e passa a viver com os dois e a mãe nessa mansão. Tudo muda quando vem a guerra e o pintor decide se alistar. Outro rosto conhecido do elenco é o de Charlotte Rampling, que trabalhou com Ozon em SOB A AREIA (2000) e SWIMMING POOL - À BEIRA DA PISCINA (2003) e interpreta a esposa do editor.

Uma das características marcantes do cinema de Ozon é justamente o de arrancar boas interpretações femininas, embora um de seus melhores filmes, O TEMPO QUE RESTA (2005), seja do ponto de vista masculino. Em O AMOR EM 5 TEMPOS (2004) foi a vez da bela Valeria Bruni Tedeschi; Charlotte Rampling protagonizou o triste drama SOB A AREIA; e não poderia deixar de lembrar de Ludivine Sagnier, que nunca foi tão lindamente utilizada como nos filmes de Ozon, em trabalhos como GOTAS D'ÁGUA SOBRE PEDRAS ESCALDANTES (2000), 8 MULHERES (2002) e SWIMMING POOL - À BEIRA DA PISCINA. Impossível não tirar os olhos dos seios fartos da moça. Sem falar que no divertido musical 8 MULHERES, Ozon contou também com um time de estrelas de peso do cinema francês: Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Emmanuelle Béart e Fanny Ardant. É mole? O que eu ainda não entendi foi as intenções de Ozon como autor. O que ele deseja passar com suas obras? O fato é que todos os seus filmes, por melhores e mais belos que sejam, sempre deixam um gostinho de dúvida sobre suas qualidades. Como se estivéssemos sendo de alguma maneira enganados pelo cineasta. Como se ele estivesse curtindo com o gosto e com as expectativas da platéia. Talvez seja esse o denominador comum dos filmes de Ozon. Mas isso é só uma suposição de alguém que não chegou a ler nenhum texto sobre o conjunto da obra do diretor, a fim de encontrar mais respostas. O fato é que, querendo ou não, Ozon talvez seja o cineasta francês mais importante - ou pelo menos o mais famoso - surgido nos anos 90.

Top 5 Ozon:

1. GOTAS D'ÁGUA SOBRE PEDRAS ESCALDANTES
2. O AMOR EM 5 TEMPOS
3. O TEMPO QUE RESTA
4. SWIMMING POOL - À BEIRA DA PISCINA
5. 8 MULHERES

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