quarta-feira, junho 25, 2008

CLEÓPATRA























Desde que me entendo por cinéfilo, não lembro de ter visto um filme de Júlio Bressane passando nos cinemas da cidade. Eles simplesmente não chegam. Quando dou por mim, lá estão os filmes nas locadoras. Aconteceu com SÃO JERÔNIMO (1999), DIAS DE NIETSZCHE EM TURIM (2001) e FILME DE AMOR (2003). Portanto, não deixa de ser motivo de comemoração ver que a mais recente obra dele, o massacrado e vaiado CLEÓPATRA (2007), estreou no Espaço Unibanco local. Foi o meu primeiro Bressane no cinema! E é impressionante o quanto as pessoas esquecem o passado glorioso e a importância de certos cineastas na história do cinema brasileiro e sequer tentam entender as intenções do cineasta ao optar por fazer o seu trabalho à sua maneira. É importante lembrar que Júlio Bressane é um dos mestres do chamado Cinema Marginal, surgido no final dos anos 60. Mesmo assim, o que choveu de críticas negativas em cima desse novo filme não é brincadeira. Até por chamar mais a atenção do público que os outros trabalhos dele por causa do elenco de celebridades "globais" envolvido no projeto. Mas Bressane parece não estar nem aí. E com sua formação erudita e sua coragem em fazer "filme de época" com poucos recursos, num país que não mais valoriza ousadias e experimentações, tão comuns no cinema brasileiro de outrora, o diretor dá a cara à tapa.

A princípio, o principal atrativo do filme de Bressane, principalmente para o público masculino, é a presença de Alessandra Negrini, no auge da beleza e da gostosura, em cenas de nudez e sexo, fazendo o papel de uma das mais importantes mulheres da História da humanidade. Aliás, pensando nisso, venho com uma pergunta: quais seriam as mulheres mais importantes da História? Agora me vem à cabeça Cleópatra, Joana D'Arc, a Rainha Elizabeth, Helena Blavatsky... Quem mais faria parte desse time? O fato é que Cleópatra, não por acaso, desperta até hoje um certo facínio, e não apenas devido à facilidade com que ela atraía os homens, mas também por conta de sua inteligência - dizem que ela falava sete ou oito línguas - e de seus conhecimentos em ocultismo, fato que gerou alguns dos momentos mais interessantes e até lynchianos do filme de Bressane. Destaque para a cena em que a câmera se desloca por uma cortina, pára em uma janela e um personagem diz que algo fora do normal está acontecendo naquele momento. A cena que mostra Júlio César (Miguel Falabella) tendo um ataque epiléptico é estranhíssima, bem como as diversas vezes em que Cleópatra treme ao ouvir o nome de Alexandre Magno. Ou quando ela se utiliza de suas habilidades místicas.

Quanto a Miguel Falabella, fiquei surpreso positivamente com sua interpretação. A princípio, não gostei de sua escalação, mas até que ele fez um bom Júlio César. A cena erótica envolvendo os dedos de Cleópatra é provavelmente o que mais dá o que falar ao final da sessão. Bem como a cena, aparentemente gratuita, em que Bressane mostra o close de uma vagina totalmente depilada e pintada de preto, com a câmera dando um giro de 180º formando um triângulo. Seria a intenção do diretor fazer uma relação do Egito, cujo maior símbolo são as pirâmides, com a genitália feminina? O poder da vagina seria, portanto, um dos principais temas de CLEÓPATRA. No papel de Marco Antônio, e fazendo um trabalho mais másculo que Falabella, aparece Bruno Garcia. Sei que sou meio suspeito e costumo gostar de filmes que mostram a beleza da anatomia feminina, mas o fato é que eu também curti os momentos mais políticos, de decisões estratégicas tanto por parte dos romanos, quanto dos egípcios. E claro, dos momentos mais misteriosos e da bela fotografia em scope de Walter Carvalho. Senti-me um privilegiado de ter podido ver esse filme no cinema. E deu vontade de rever CLEÓPATRA, de Joseph L. Mankiewicz, mesmo sabendo que se trata de uma obra mais acadêmica. É que o filme despertou em mim uma curiosidade maior em relação à figura de Cleópatra.

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