sexta-feira, abril 11, 2008

PARANOID PARK



Tem coisa mais emputecedora (existe essa palavra?) do que a gente escrever um texto e quando está praticamente todo pronto o computador travar ou reiniciar sem você ter tido o cuidado de salvar coisa alguma? Pois é. Foi isso que aconteceu agora. Estava escrevendo sobre PARANOID PARK (2007) quando a porra do computador reiniciou! Mas como eu tento ser um cara paciente, vamos começar de novo. Ainda bem que pelo menos eu tinha feito um rascunho numa folha de papel, mas sei que modifiquei e repensei outras coisas. Com certeza não vai ficar do mesmo jeito o texto. E provavelmente nem melhor. Vamos lá. Agora, salvando o arquivo a cada final de frase.

O interesse de Gus Van Sant pela juventude e suas angústias não é um tema recente ou surgido na chamada "virada" na sua carreira de cineasta com GERRY (2002). Desde seu primeiro longa, o pouco visto e conhecido MALA NOCHE (1985) - que eu só fui atrás de baixar depois de ler uma interessante crítica sobre o filme na Revista Paisà - que o cineasta tem uma fixação pelo jovem, em especial o do sexo masculino. O que muitos poderiam atribuir à sua homossexualidade e isso não deixaria de ser uma suposição lógica. Porém, limitar seu cinema a isso também não é muito inteligente, mas deixo as teorias mais complicadas para aqueles que realmente estudam cinema a sério e tem mais conhecimento sobre o assunto.

PARANOID PARK foca a atenção na vida de Alex (o jovem estreante Gabe Nevins), um rapaz cujo maior prazer está em praticar skate. Ele tem uma namorada virgem que está a fim de "dar" pra ele, mas por razões pessoais ele prefere adiar o "grande dia". Tudo que ele quer é ficar sentado ou praticando skate no Paranoid Park, o lugar onde um grupo de skatistas convive meio que à margem da sociedade. Assim como ELEFANTE (2003), mas sem adotar uma estrutura circular, PARANOID PARK conta com uma montagem fora do convencional. Vamos percebendo que a edição do filme vai seguindo a própria consciência do rapaz que escreve num diário sobre suas aflições e sua vida. Aos poucos, o filme vai retornando a momentos que haviam sido apagados da mente de Alex.

O tema do trauma que provoca esquecimento ou negação não é novidade no cinema. Alfred Hitchcock já o havia abordado em QUANDO FALA O CORAÇÃO e boa parte das obras de David Lynch também lidam com o assunto. Mas Van Sant opta por uma abordagem mais moderna. O andamento lento e os tempos mortos, se não são tão fortes quanto em ÚLTIMOS DIAS (2005), talvez isso se deva ao fato de o filme fluir melhor. Nesse sentido, há uma semelhança maior com ELEFANTE. A filmografia de Van Sant tem se caracterizado pela adoção de um cinema mais "vanguardista", desde a sua ruptura com o cinema clássico-narrativo a partir de GERRY, o que fez com que seu nome aparecesse entre os nomes de mais prestígio do cinema americano atual. Agora, se eu gostei ou não do filme? Digamos que eu gostei, embora ele não tenha despertado em mim o mesmo entusiasmo de ELEFANTE nem a mesma angústia de ÚLTIMOS DIAS e GERRY. É um filme mais "agradável" do que esses dois dois citados, mas cuja apatia do protagonista quase me contaminou durante a sessão.

Quanto ao futuro de Van Sant, parece que o cineasta gosta mesmo de participar desses filmes coletivos. Depois de PARIS, TE AMO (2006) e CADA UM COM SEU CINEMA (2007), ele volta a trabalhar em um filme de segmentos com 8 (2008), também uma obra patrocinada com dinheiro francês e que conta com mais sete cineastas: Jane Campion, Gael Garcia Bernal, Jan Kounen, Mira Nair, Gaspar Noé, Abderrahmane Sissako e Wim Wenders. O foco do filme é o progresso e as mudanças do mundo contemporâneo.

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