sexta-feira, abril 18, 2008

À MEIA LUZ (Gaslight)



Cada vez mais eu admiro a versatilidade de George Cukor, que começou sua carreira em Hollywood fazendo comédias e melodramas de sucesso, mas que durante a década de 40 teve que se adaptar aos novos tempos e se mostrar também um hábil diretor de filmes noir e de suspense. À MEIA LUZ (1944), com seus cenários e tons cujo escuro predomina mais do que o claro, e com a construção de uma atmosfera que privilegia o clima de opressão, poderia ser facilmente confundido com um trabalho de Alfred Hitchcock.

Como é de praxe no cinema de Cukor, há sempre - ou quase sempre - uma estrela que desempenha um papel brilhante sob as mãos hábeis do cineasta. Em À MEIA LUZ, a estrela da vez é a bela e suave Ingrid Bergman, que na década de 40 brilhou em alguns clássicos de Hitchcock e no famoso CASABLANCA. Geralmente, Ingrid desempenhava o papel de mulheres fragilizadas ou extremamente sensíveis. Em À MEIA LUZ, esse estigma que ela recebeu em Hollywood não se constitui exceção - não sei o quanto mudou quando ela passou a fazer filmes na Itália.

Em À MEIA LUZ, ela é Paula Anton, uma mulher apaixonada por um homem manipulador (Charles Boyer) que desde o começo do filme já se evidencia como um sujeito no mínimo suspeito, mas que ao desenrolar da trama, vai se tornando um vilão de primeira grandeza, desses que a gente adora odiar. Por causa do amor que ela nutre por esse homem, ela logo abandona a sua rotina e o seu futuro como cantora. Mal sabia ela que esse homem tinha outras intenções. Eles se casam e mudam-se para a casa abandonada da tia assassinada de Paula, onde o perverso homem começa a manipular a mente da pobre mulher, que passa a se questionar sobre sua própria sanidade mental. O clima de opressão é crescente e só vai ser atenuado com a entrada em cena do investigador da Scotland Yard interpretado por Joseph Cotten. Logo ele, que interpretou uma pessoa de caráter duvidoso no hitchcockiano À SOMBRA DE UMA DÚVIDA.

Porém, por mais que se valorize o ótimo roteiro - baseado na peça de Patrick Hamilton -, a excelente construção do clima de suspense e o desempenho brilhante de Ingrid Bergman, muito da força do filme se deve ao papel de vilão de Charles Boyer. Talvez seja ele a alma do filme. O dvd da Warner tem dois lados. O lado B traz a adaptação de 1940 da mesma peça, dirigida por Thorold Dickinson, que eu não cheguei a ver nem a gravar. Duvido que seja tão boa quanto a versão de Cukor. Quanto à entrevista do diretor contida no livro "Afinal, Quem Faz os Filmes", a única coisa que o diretor comenta com Bogdanovich sobre À MEIA LUZ é a respeito do desempenho de Angela Lansbury, a jovem que faz o papel da empregada vulgar e antipática que debutou no cinema com a bênção de Cukor.

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