sábado, março 08, 2008

POR TODA A MINHA VIDA - DOIS ESPECIAIS



Talvez por ser de outra geração e de me identificar mais com o pop e o rock do que com a MPB, alguns artistas pra mim não exercem tanto fascínio. Pelo contrário, alguns deles eu não consigo gostar nem um pouco, como Milton Nascimento, por exemplo. Também não sou muito fã de Gilberto Gil, embora algumas canções dele ainda me agradem. Pra mim, nenhum desses artistas da MPB se equiparam a Roberto Carlos, cujos clássicos ficaram atemporais e não representativos de uma época, como foram várias das canções que procuravam criticar a ditadura popular através de metáforas, como as compostas por Chico Buarque. Não que eu não ache que elas tenham a sua importância, longe disso. E é até engraçado eu estar falando isso logo depois de ter comprado o disco de covers da Fernanda Takai, só com canções do repertório de Nara Leão e com composição de vários medalhões da MPB. Além do mais, uma das minhas bandas preferidas acabou virando uma banda de MPB, o Los Hermanos. Talvez o que eu sinta falta nos clássicos da MPB seja algum sentido pra mim: "Águas de Março" não me diz nada. E essa é só um exemplo. Acho que sou como o Morrissey que reclama das canções que não dizem nada sobre a sua vida ("Panic", dos Smiths) e como Renato Russo, que queria ouvir uma canção de amor que falasse da sua situação ("O mundo anda tão complicado", da Legião Urbana). Não sei porque quis começar o texto falando disso, acho que foi só pra esclarecer um pouco sobre meus gostos musicais. Indo direto ao assunto: a Rede Globo recentemente criou um programa que homenageia cantores mortos. O último a ser exibido foi sobre os Mamonas Assassinas, mas eu acabei perdendo. Na verdade, não tive muito interesse em assistir, já que a história dos rapazes é tão recente e conhecida e pouco ia acrescentar pra mim. Assisti recentemente, através de reprise na tv e de download pela internet os especiais da Elis Regina e do Tim Maia e descobri coisas que não sabia da vida e obra dos dois artistas.

ELIS REGINA

Está aí uma artista que eu nunca simpatizei muito. Prefiro a filha dela, a Maria Rita, cuja carreira venho acompanhando e gostando. E acho que o que me puxou para Maria Rita foram as composições do Marcelo Camelo. Mas gosto do estilo da moça, menos gritado do que o da mãe. Quanto ao programa, a parte documental é muito mais utilizada do que as seqüências dramatizadas, com Hermila Guedes interpretando Elis. Engraçado que nas entrevistas que vi de Elis ela parecia sempre estar quimicamente alterada. Parecia tomar muitas drogas. E o programa da Globo sequer mencionou esse fato, talvez vetado pelos filhos da cantora que não queriam ver a sua mãe como uma junkie, ou a própria emissora teve medo de denegrir a sua imagem. Mesmo assim, acho que ficou subentendida a sua morte. A vida de Elis, que casou duas vezes e teve três filhos, é mostrada com certo glamour e como boa pisciana que era, Elis cantava com o coração, chegando a chorar diversas vezes no palco, sentindo de verdade a música. O programa mostra desde sua infância, passando pelo início da carreira, o programa "O Fino da Bossa", ao lado de Jair Rodrigues, seus casamentos, suas parcerias musicais - impressionante como Gilberto Gil e Milton Nascimento afirmam ter sido apaixonados de verdade por ela. A importância de "O bêbado e o equilibrista" durante o período da anistia no final dos anos 70 é destacada no final e a interpretação emocionada da cantora dessa música me fez valorizar e entender um pouco mais aquele período em que vivi, mas que ainda era criança demais para entender.

TIM MAIA

Quanto à Tim Maia, trata-se de um artista com que eu tenho mais simpatia. Acho que sempre tive, desde criança. O problema dele é que o sujeito era muito preguiçoso. E nunca negou isso, tanto que um de seus maiores sucessos é "Sossego", que fala de um sujeito que não quer saber de trabalhar. Tanto que sua ausência aos próprios shows acabou se tornando sua marca. O especial da Globo quase coincide com o lançamento do livro "Vale Tudo", a biografia de Tim Maia, escrita por Nelson Motta. Não cheguei a ficar tão animado pra comprar o livro, tanto quanto fiquei com a biografia, hoje proibida, do Roberto, mas pelo que li no livro do Roberto, já sabia bastante coisa sobre Tim, que foi peça fundamental no início da carreira do Rei. Um dos momentos mais bonitos do especial da Globo sobre o Tim é o momento em que ele, sozinho e rejeitado na casa dos amigos, que sempre arrumavam namoradas e ele ficava só, compôs "Azul da cor do mar", uma de suas canções mais belas. Tim Maia, como mostrado no programa, era um sujeito que gostava de viver intensamente. Tudo dele era exagerado: comia exageradamente, também não bebia pouco e cheirava cocaína bastante. Até na época em que ele se converteu à seita racional, ele exagerou. Parou de beber e usar drogas e só queria cantar as músicas do disco Tim Maia Racional (vol. 1 e 2). Depois que se sentiu enganado pelo guru da religião (Manuel Jacinto Coelho) ficou puto e voltou a fazer tudo que fazia antes. E engordando muito e usando muitas drogas. E acabou morrendo nos palcos como um bom guerreiro, que morre lutando.

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