terça-feira, janeiro 15, 2008
MONAMOUR
Sou contra ver os filmes de Tinto Brass como se vê um filme pornô, isto é, passando as partes de diálogo e indo direto para a sacanagem. Sem falar que os diálogos de seus filmes não são conversas sobre negócios ou algo que vá incomodar ou aborrecer alguém que está disposto a ver um filme de sexo. Alguns filmes dele até poderiam entrar nesse quesito, como LUXÚRIA (2002), que realmente tem pouco sexo e muito papo. Mas não é o caso do novo MONAMOUR (2005), que retoma os temas de TODAS AS MULHERES FAZEM (1992) e A PERVERTIDA (2000), isto é, das mulheres fogosas e mal fodidas por seus maridos e que tratam de buscar a satisfação de seus desejos fora de casa.
É o caso de Marta (a gostosíssima Anna Jimskaia), que viaja com o marido Dario para um festival de literatura em Roma. Ela está insatisfeita com Dario. Com ele, ela não consegue ter nenhum orgasmo, já que ele nem dá espaço pra ela, gozando rápido e eliminando as preliminares. Ao visitar um museu, ela conhece o desenhista francês Leon, um sujeito bastante ousado que, não agüentando ver tanta gostosura em sua frente, mete a mão com gosto nas partes íntimas da moça. Que se finge de abusada, mas que na verdade gosta da ousadia do rapaz - ora, se até em filmes como DESEJO E REPARAÇÃO as mulheres gostam desse tipo de ousadia, imaginem no cinema de Tinto Brass. Por coincidência, ela encontra o mesmo Leon numa festa e, como ela estava sem calcinha e usando um vestido pra lá de provocante, Leon usa e abusa dela quando a tira para dançar. Não falta pouco para o marido perder a mulher de vista e ela dar uma fugidinha com o novo amante. São assim as mulheres de Tinto Brass: loucas por sexo e sem medo de serem infiéis. E são assim os maridos: cornos que sentem ciúme de suas esposas, mas que acabam não as rejeitando no final, dando até mais valor ao que têm.
Não que os filmes do velho tarado sejam moralistas ou "rodriguianos", mas existe uma moral nisso aí, embora no fim das contas tudo não passe de exorcismos de suas fantasias eróticas expostas na tela e sem a menor vergonha. Aliás, a falta de vergonha é levada às últimas conseqüências em MONAMOUR, que além de ser o filme do diretor que mais se aproxima da pornografia pura também traz seqüências de exposição pública inimagináveis e até surreais, como a cena de Marta dançando e transando com Leon em pleno restaurante, aos olhos de todos. Inclusive, é nessa parte que uma cantora, vendo a demonstração desavergonhada dos dois amantes, se inspira e canta a bela "Non, Je Ne Regrette Rien", que fica parecendo um pouco deslocada num filme tão bagaceira e sem vergonha quanto MONAMOUR. Mas Brass deve estar pouco se lixando para o que as pessoas pensam no que é de bom ou de mau gosto, misturando em seu filme o belo e estiloso jogo de espelhos usado por ele desde os anos 80 e uma homenagem a DUBLÊ DE CORPO, de Brian De Palma. O que pode incomodar um pouco aos fãs do diretor e aos espectadores em geral é o uso das próteses no lugar dos pênis de verdade nas cenas de felação. Mas a voluptuosidade da ucraniana Anna Jimskaya, que passa o filme inteiro expondo seu corpo ao máximo, compensa qualquer falha que o filme tenha.
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