sábado, dezembro 22, 2007
SIDNEY LUMET EM TRÊS FILMES
Depois da repercussão bastante positiva na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO (2007), do veterano mestre de 83 anos Sidney Lumet, apareceu na lista dos dez melhores filmes do ano do AFI - American Film Institute. Quando se achava que o velho Lumet já tinha dado o melhor de si, eis que o homem mostra fôlego de um jovem. Assisti recentemente três títulos de diferentes fases da carreira do cineasta e coincidentemente os três são filmes de tribunal. A julgar por esses três trabalhos, Lumet deve gostar bastante do meio forense. E esses não são os únicos filmes de tribunal do homem não.
12 HOMENS E UMA SENTENÇA (12 Angry Men)
Presença constante em várias listas de melhores de todos os tempos, 12 HOMENS E UMA SENTENÇA (1957) é um daqueles títulos que eu tinha a obrigação de ter visto há muito tempo, mas que acabei vendo só agora. Realmente trata-se de uma obra excepcional, filmado o tempo todo numa única sala e sem perder o pique em instante algum, o filme mostra um júri composto por doze homens que devem decidir pelo destino de um rapaz, acusado de ter matado o próprio pai. No início, não sabemos nada sobre o assunto, afinal, não assistimos ao julgamento. O que vai sendo revelado é o que é debatido pelos membros do júri. A princípio, todos acreditam que o rapaz é culpado, apenas o personagem de Henry Fonda acredita em sua inocência e tenta fazer com que aquele júri leve a sério o seu papel. Apesar de se passar inteiramente num único lugar, uma sala de júri, o filme tem um trabalho de câmera que faz com que ele passe longe de ser teatro filmado. Quarenta anos depois, o filme ganhou um remake dirigido por William Friedkin, numa produção para tv, que eu não cheguei a ver, mas que dizem ser bem legal também.
O VEREDICTO (The Verdict)
E qual não foi minha surpresa ao ver que O VEREDICTO (1982) é ainda melhor que 12 HOMENS E UMA SENTENÇA. Até o momento, é o meu favorito de Lumet, talvez melhor até que UM DIA DE CÃO (1975), mas esse eu precisaria rever pra confirmar. Aliás, Lumet é tão prolixo que é preciso ver muita coisa dele ainda pra se ter uma idéia da qualidade de sua obra. Em O VEREDICTO, Paul Newman tem uma das melhores performances de sua carreira, interpretando um advogado decadente e alcóolatra que tenta recuperar a sua carreira e a sua honra, pegando o caso de uma mulher em estado de coma devido a erro médico. Como o hospital é muito conceituado e diretamente ligado à Igreja Católica, ele recebe uma boa quantia em dinheiro para não levar o caso ao tribunal. Em vez disso, ele rejeita o cheque e prefere ir à luta. Mas as coisas vão se tornando cada vez mais difíceis para o advogado, especialmente quando uma de suas testemunhas-chave desaparece. O VEREDICTO, apesar de ser um drama de tribunal, seus melhores momentos acontecem fora do tribunal. E se você quer se tornar um fã de Paul Newman, dê uma olhada em O VEREDICTO. Impossível não admirá-lo. Recentemente, George Clooney disse ter se inspirado nesse papel para a construção de outro advogado decadente no recente CONDUTA DE RISCO. Gravado da Globo.
SOB SUSPEITA (Find me Guilty)
Não é tão bom quanto os anteriores, mas SOB SUSPEITA (2006) cresce bastante no final. Quando ele deixa um pouco de lado o aspecto cômico, o filme vai ganhando força. É um pouco esquizofrênico. Começa em tom de comédia e depois vai ganhando uma carga melodramática. Pela falta de tempo e pelo cansaço dos últimos dias, acabei vendo o filme "em fascículos" e achei-o um pouco longo em sua duração, mas depois que ele terminou, achei que o fato de o filme se arrastar por pouco mais de duas horas acaba sendo coerente com o enredo e com o tempo do julgamento que se estendeu por quase dois anos. Em SOB SUSPEITA, Vin Diesel é Jackie DiNorscio, um membro da máfia italiana que é condenado a 30 anos de cadeia e se recusa a cooperar com o FBI e entregar a famiglia e o chefão. Em vez disso, ele demite o seu advogado e mesmo sem ter nenhuma noção de Direito, prefere ser o seu próprio advogado. O resultado é que ele transforma o tribunal num show de humor, num circo, o que o torna simpático ao júri. Vin Diesel está bem diferente nesse papel, deixando de lado a sua persona grosseira comum nos filmes que lhe fizeram a fama. E ele só tem a ganhar com isso, principalmente com essa oportunidade de trabalhar com um cineasta como Lumet. Mas engana-se quem pensa que Lumet mudou de lado ao apoiar a máfia. Acontece que os supostos homens da lei também agem como mafiosos, portanto, não há como não apoiar a famiglia e seu senso de ética e companheirismo. Enfim, é um filme assumidamente subversivo. Destaque para o personagem de Peter Dinklage, o protagonista de O AGENTE DA ESTAÇÃO, fazendo papel de um dos advogados da máfia.
P.S.: Chegou a nova Paisà! A capa está lindona e o destaque desse mês é Gus Van Sant, com o seu PARANOID PARK e a cobertura dos festivais.
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