domingo, novembro 04, 2007
CREPÚSCULO DE UMA RAÇA (Cheyenne Autumn)
E com o cansativo épico de três horas de duração CREPÚSCULO DE UMA RAÇA (1964), eu finalizo por aqui a minha peregrinação pela obra de John Ford. Ainda tornarei a falar dele em breve assim que assistir o documentário de Peter Bogdanovich, mas devo passar um tempão sem ver outro filme do diretor. Faltaram alguns filmes importantes a serem vistos como O JUIZ PRIEST (1934), O DELATOR (1935) e CARAVANA DE BRAVOS (1950), mas acredito que pela quantidade de filmes que vi (33, no total), tornou-se possível entender um pouco do homem e do cineasta John Ford. Pena que, diferente de seu amigo Howard Hawks, Ford não tenha encerrado sua carreira com obras-primas.
CREPÚSCULO DE UMA RAÇA foi seu último western e uma espécie de pedido de perdão aos índios, que sempre foram mostrados em seus filmes como os vilões, os inimigos perversos dos brancos. Depois desse filme, Ford ainda faria O REBELDE SONHADOR (1965) e SETE MULHERES (1966), que eu infelizmente não consegui cópias e que devo ver, quem sabe, em outra oportunidade. O tom épico de CREPÚSCULO DE UMA RAÇA já se percebe de início, já que antes do filme temos um overture, como era comum nos épicos produzidos nos anos 60 e que meio que envelheceram. O overture é uma forma de preparar os espectadores para o clima do filme, ouvindo-se durante alguns minutos apenas música. Como o filme é longo, há também uma pausa lá pelo meio, chamada de intermission e um retorno, também com música por alguns minutos, enquanto o público volta aos seus lugares, chamada de entr'act. O filme foi fotografado em technicholor e em scope 70 mm. Todo esse luxo, além da presença de coadjuvantes do porte de James Stewart e Edward G. Robinson, dá uma dimensão da grandiosidade e da pretenção do projeto.
O protagonista é Richard Widmark, que se comporta e fala no filme como se estivesse imitando John Wayne. Ele é o Capitão Thomas Archer, encarregado de tomar de conta de uma reserva indígena de uma tribo Cheyenne. Como naquela época, boa parte dos índios haviam sido mortos pelos brancos, esses cheyennes viviam sob os cuidados desses militares, além de receberem aulas de inglês e matemática de uma professora quaker, interpretada pela bela loira Carroll Baker, sex symbol nos anos 60 que chegou a trabalhar em alguns gialli na Itália também. Mas voltando aos índios, o problema é que eles estavam passando fome e completamente insatisfeitos com o tratamento dado pelos militares. Por isso, eles resolvem sair de lá. E é aí que começam os problemas, já que o Capitão Archer tem ordens de mantê-los lá e vai ao encalço dos danados. Pra completar, como os índios ainda eram vistos como inimigos em grande parte do território americano, mesmo mendigando pão, eles acabam recebendo bala de alguns caubóis.
Suspeito que se o filme legendasse as falas da língua indígena, teríamos uma melhor visão do pensamento deles. Por isso, apesar da tentativa de equilibrar os pontos de vista dos brancos e dos índios, a narração em tom solene de Widmark não nega que o ponto de vista é mesmo dos brancos. Vai ver a idéia foi mesmo essa, pois logo no começo do filme Widmark diz que o objetivo do filme é mostrar um acontecimento que aparecia apenas como nota de rodapé nos livros de História. De todo modo, apesar de um atraso de 14 anos em relação a FLECHAS ARDENTES, de Delmer Daves, o filme de Ford, ainda que com certo esforço, homenageia a bravura de uma raça. No mais, o filme é bem irregular e o personagem de James Stewart, no papel de Wyatt Earp, parece não ter função na trama, apesar de roubar a cena quando aparece, dando um sopro de alegria ao filme, que no geral é bem triste. Mas o que se podia esperar de um filme crepuscular de um diretor como John Ford?
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