segunda-feira, agosto 20, 2007
SATYRICON / FELLINI-SATYRICON
Minha relação com o cinema de Federico Fellini ainda é mais de respeito do que propriamente de adoração. Não são todos os filmes dele que descem redondo. E são poucos os que me fascinam, caso de A DOCE VIDA (1960) e ROMA (1972). E foi justamente por causa da apreciação dessas duas obras-primas que eu me permiti rever no cinema esse SATYRICON (1969), que eu tinha assistido em vhs há um tempão. Ver o filme no cinema, com a janela correta, é um programa bastante atraente. O Espaço Unibanco Dragão do Mar está promovendo mostras de diretores consagrados, dedicando uma sessão diária para esses filmes. Eles passaram os filmes das quatro estações de Eric Rohmer e agora estão promovendo a mini-mostra "4 Vezes Fellini". Já foi exibido I CLOWNS (1971) e está prometido para as próximas semanas AMARCORD (1973) e CASANOVA (1976). Espero que eles continuem com esse belo projeto, que vai ajudar a revitalizar aquele espaço.
Lá pelo final de A DOCE VIDA, vimos o quanto Fellini apreciava os excessos e o bizarro. Mas ninguém imaginaria que ele chegaria ao final da década de 60 com esse pesadelo infernal chamado SATYRICON. Baseado na obra de Petronius, o filme mostra a sociedade romana na época do Império Romano. O filme começa com dois irmãos brigando pela posse de um garoto. Ascilto havia vendido o menino para um grupo de teatro e Encolpio foi lá resgatá-lo. O garoto estava pouco ligando e parecia gostar de ser usado como objeto sexual por quem quisesse desfrutar de sua companhia. O filme acompanha a saga de Encolpio, que sobrevive a um soterramento, janta com um grupo de velhos ricos e glutões e depois é levado como escravo.
Mas a estória não importa muito. O ideal é se deixar levar pelo clima psicodélico típico daquele final de década que combina muito bem com a atmosfera de sonho que Fellini imprime. Entre os momentos mais memoráveis está o passeio de Ascilto com seu namorado-escravo. A direção de arte e a cenografia do filme são fantásticos. À medida que Ascilto e o menino vão passando pelas ruas, vemos ao fundo um painel ao mesmo tempo belo e grotesco das pessoas e das decorações da época, o que nos lembra o quanto o cinema italiano era rico e poderoso naquela época. Há um aspecto de sujeira e de asco bem interessante, diferente de vários outros filmes de época, tanto hollywoodianos quanto italianos, que tentavam recriar a época, mas mostrando tudo muito limpinho. Em vez disso, Fellini procurou mostrar a sujeira - a maquiagem das pessoas é feia e a comida é nojenta. E talvez seja o filme mais homo-erótico do cineasta. Mas o que me incomodou no filme foi a estória que vai ficando meio confusa lá pelo final, o que acabou me deixando um pouco disperso. Ainda assim, gostando-se ou não, ver SATYRICON no cinema é uma experiência única.
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