A reação de estranheza diante de POSSUÍDOS (2006) é inevitável. Principalmente para o público que vai ao cinema despreparado ou esperando ver um filme sobre possessões demoníacas, o que é até natural, tendo em vista o equivocado título brasileiro - que ainda por cima pode ser confundido com o thriller estrelado pelo Denzel Washington - e a forma como o filme vem sendo vendido, como "o novo filme do diretor de O EXORCISTA (1973)". Mas o importante é que ainda tem gente que tem recebido com boa vontade e respeito cada novo filme de William Friedkin. Desde a exibição em Cannes, seguida da boa aceitação da crítica, que se aguarda com expectativa a estréia do filme. Eu, como evitei ler qualquer texto a respeito, também me surpreendi com o resultado final, principalmente por parecer muito com teatro. Na verdade, ainda não sei se gostei ou não do filme. Mas posso dizer, com certeza, que é uma obra digna da atenção de quem procura algo bem diferente do feijão com arroz básico oferecido pelos desgastados filmes de terror recentes.
A origem teatral do filme não é disfarçada. Aliás, o filme vai se parecendo mais e mais com uma peça teatral depois de sua segunda metade, quando os personagens ficam o tempo todo num mesmo lugar e conversando bastante. A primeira imagem do filme é uma visão aérea do motel onde a trama vai se desenrolar. A câmera vai se aproximando aos poucos, descendo até chegar perto do telhado do prédio. Corte para uma tomada de outro ângulo. Dentro do quarto do velho motel, vemos uma abatida Ashley Judd atendendo um telefonema. Ninguém responde. Durante a noite, ela recebe várias dessas ligações. Ela acredita que seja o seu ex-marido (Harry Connick Jr.), saído recentemente da cadeia. Ela teme que ele chegue por lá para perturbá-la. Num dos poucos momentos "extra-quarto de motel", a personagem de Ashley vai até um bar de lésbicas, onde mantém contato com uma amiga que lhe apresenta um estranho sujeito (Michael Shannon) que diz ver coisas que as outras pessoas não vêem.
Tenho impressão que as poucas incursões de Friedkin no território dos filmes de terror mostram-se completamente estranhas ao que se está acostumado a ver. O EXORCISTA já mostrava isso, já que se trata de um filme mais de mau estar do que de sustos. O pouco visto e subestimado A ÁRVORE DA MALDIÇÃO (1990) é também um filme estranhíssimo e original, que mereceria uma revisão. POSSUÍDOS, então, segue um caminho ainda mais distinto, embora não me admiraria que se encontrasse pontos de intersecção com os demais trabalhos do diretor. Em relação a O EXORCISTA, talvez o ponto em comum com esse filme seja mesmo o mau estar que ele provoca. Eu, pelo menos, assim que saí do cinema, tratei logo de comprar um remédio pra coceira e um inceticida. ;-)
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